Desde seu lançamento há alguns dias, Wicked: Parte II se consolidou como uma peça fundamental na expansão do universo de Oz, uma releitura vibrante que retoma a história de Wicked e a leva para um lugar mais emocional e revelador. Esta nova edição não se limita a dar continuidade à história: ela a desmonta, examina e reconstrói a partir de perspectivas nunca antes exploradas, mostrando como os grandes marcos do clássico de 1939 — como o tornado, os tênis, a bruxa má ou a estrada de tijolos amarelos — assumem um significado completamente diferente quando vistos da perspectiva daqueles que foram silenciados.
Em meio a traições, feitiços, amizades desfeitas e escolhas difíceis, o filme constrói uma ponte entre a memória do mito e uma interpretação contemporânea que desafia a narrativa oficial. O resultado é uma história que reinterpreta O Mágico de Oz, tornando-a maior, mais humana e mais profundamente trágica.
ATENÇÃO! A partir daqui, haverá spoilers de Wicked: Parte II
Reescrevendo a história
Wicked: Parte II pressupõe que o espectador esteja familiarizado com O Mágico de Oz, e embora não seja essencial tê-lo assistido previamente, o filme clássico enriquece cada referência, desde a jornada de Dorothy até o próprio Mágico. Sua presença é sentida em todos os lugares, mas sempre reinterpretada através de uma perspectiva mais madura e crítica.
A personagem Elphaba (Cynthia Erivo) é apresentada aqui com nuances profundas: mais do que uma vilã, ela é uma mulher marcada pela rejeição, por uma identidade que incomoda os outros e por uma magia que a transforma em um símbolo tanto de medo quanto de esperança. O filme revela como o mal que lhe é atribuído é, na realidade, uma construção política criada para silenciá-la.
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Glinda (Ariana Grande), por outro lado, experimenta uma ascensão meteórica que mascara uma corrente subterrânea mais complexa. O filme explora como seu carisma e necessidade de aprovação pública a impulsionam a uma posição de poder, que o Mágico e Madame Morrible (Michelle Yeoh) exploram para manipular a percepção pública. Até mesmo a famosa bolha surge como uma ferramenta de propaganda, e não como um ato mágico.
As origens dos personagens agora são conhecidas
A explicação sobre de onde vieram os companheiros de Dorothy é um dos aspectos mais surpreendentes: Boq (Ethan Slater) se torna o Homem de Lata devido a um feitiço malsucedido de Nessarose, Fiyero (Jonathan Bailey) acaba como o Espantalho após um ato desesperado de Elphaba para salvar sua vida e o Leão se torna covarde não por natureza, mas por causa de como foi tirado de seu ambiente quando filhote. Os três são vítimas involuntárias dos conflitos em Oz.
Dorothy aparece diversas vezes, mas sem mostrar o rosto, uma decisão narrativa que reforça a ideia de que Wicked: Parte 2 conta a mesma história de outro ponto de vista: vemos a queda da casa, a entrega dos sapatos e o início da estrada de tijolos amarelos, mas compreendendo a verdade por trás de cada um desses momentos.
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O final abre as portas para um Oz mais grandioso do que aquele que conhecemos, com Elphaba e Fiyero escapando para o Deserto Mortal — um elemento emprestado dos livros de Baum — enquanto Glinda assume um papel de liderança decisivo.
Assim, o filme alcança algo incomum, expandindo o mito sem contradizê-lo, oferecendo uma versão mais política, mais emocional e mais consciente da história que, por décadas, acreditamos estar completa. Agora, de fato, está.