Spike Jonze é praticamente o coelho branco de Hollywood: ele começou como diretor de videoclipes (incluindo "Weapon Of Choice”, de Fatboy Slim com Christopher Walken), mas com seu primeiro longa-metragem, Quero Ser John Malkovich, ele levou as coisas a outro nível, empurrando o espectador direto para sua maravilhosa toca de coelho — ou melhor, através de um túnel direto para a cabeça de John Malkovich.
Charlie Kaufman foi o responsável pelo roteiro brilhante, que eleva o nível do próprio filme. Ele até foi além em seu próximo golpe de gênio, também dirigido por Jonze. Se você está a fim de reflexões ambíguas, meta e uma verdadeira bagunça mental, recomendamos Adaptação..
Adaptation., no original, está disponível gratuitamente no Mercado Play.
Quando o bloqueio de escritor ataca
Em sua essência, Adaptação. é uma história sobre contar histórias. Ou: uma história sobre o que acontece quando contar histórias se torna difícil e a mesma falha. E é real: o verdadeiro Charlie Kaufman foi contratado pela 20th Century Fox para escrever a adaptação do roteiro do livro de não ficção de Susan Orlean, "O Ladrão de Orquídeas".
No entanto, ele não conseguiu se firmar, então se inscreveu no roteiro — junto com seu irmão gêmeo fictício, Donald. O filme se torna, assim, uma narrativa sobre a própria narrativa, uma visualização de um processo criativo.
Assista hoje no streaming: A poderosa adaptação cinematográfica de um clássico da literatura – aposto que você leu o livro e chorou copiosamenteE é isso que acontece em Adaptação.
No âmbito cinematográfico, vemos Nicolas Cage como o roteirista um tanto excêntrico Charlie Kaufman, que acaba de fazer um grande sucesso com Quero Ser John Malkovich, mas é atormentado por dúvidas sobre si mesmo. A produtora Valerie Thomas (Tilda Swinton) lhe dá sua próxima tarefa: a adaptação cinematográfica do livro de Susan Orlean (Meryl Streep) – e isso o mergulha em um profundo bloqueio criativo.
O livro é uma meditação poético-intelectual sobre flores, desejo, beleza e o peculiar caçador de orquídeas John Laroche (Chris Cooper), que significa: belo. E: mortalmente chato, sem desenvolvimento e sem enredo. E depois que Charlie tenta todos os tipos de abordagens para obter acesso ao material, e ao mesmo tempo, seu irmão gêmeo Donald (também Cage) obtém sucesso com um roteiro simples de suspense, em seu desespero, ele não tem escolha a não ser se inscrever no roteiro.
Columbia Pictures
Realidade e ficção se confundem
Realidade e ficção se fundem cada vez mais. E quando Charlie entrega as rédeas a Donald, as coisas ficam selvagens. Os personagens fazem coisas que não fariam na vida real, mas sim no filme. E eles amam o que fazem: Charlie, que realmente existe, e Donald, que não existe, estão espionando Susan, que existe, e assim a trama começa a se desenrolar.
Já viu? Nicolas Cage parte em uma missão de vingança no seu primeiro faroesteO filme, que por uma hora resiste a qualquer dramaturgia convencional, descamba no terceiro ato para exatamente o que Charlie queria evitar – ação, drogas, perseguições, morte. Assim, torna-se uma paródia de si mesmo, abandona o roteirista fictício e zomba de sua própria criação.
Adaptação., portanto, não é apenas uma adaptação de livro – é a adaptação do livro que falha e, portanto, se reinventa. E como se não bastasse, o final aumenta ainda mais: Donald Kaufman é creditado nos créditos finais. Além disso, Charlie até dedicou o filme inteiro a ele. E, portanto, não poderia ser mais apropriado que ambos tenham recebido uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.
