Dica de streaming: Esta obra-prima foi considerada o melhor filme de todos os tempos por muitos anos

Lançado nos anos 1940, o longa-metragem mudou para sempre a forma de se fazer cinema

A cada década, a renomada revista de cinema Sight & Sound elege os melhores filmes da história – e, nas listas de 1962, 1972, 1982, 1992 e 2002, um mesmo título ocupou o topo: o aclamado drama de Orson Welles, Cidadão Kane.

Diversas outras críticas e análises reforçaram essa admiração, o que levou alguns entusiastas a criarem expectativas exageradas – ou até uma certa reverência que afasta o filme. Recentemente, porém, muitas publicações começaram a questionar esse cânone. Junto às mudanças de gosto, isso fez com que Cidadão Kane passasse a ser visto como "apenas" um dos grandes clássicos.

Antes de fazer um dos maiores filmes de todos os tempos, Orson Welles viu 40 vezes este faroeste estrelado por John Wayne

Na última pesquisa da Sight & Sound, por exemplo, a obra-prima de Welles ficou com o terceiro lugar. Talvez isso acabe sendo positivo, já que até os espectadores menos habituais agora podem se sentir mais inclinados a conferi-lo.

Descubra por si mesmo e presenteie-se, na próxima oportunidade, com um drama brilhantemente dirigido e repleto de narrativa envolvente. A história aborda a busca pelo sucesso, a ganância e a arrogância, mesclando inteligência, ironia e tragédia.

Todo cinéfilo deve assistir a Cidadão Kane pelo menos uma vez

Em 1941, o magnata das comunicações Charles Foster Kane (Orson Welles) morre em seu castelo solitário, Xanadu. Sua última palavra – "Rosebud" – desperta a curiosidade de sua equipe e do repórter Thompson (William Alland). Ele investiga quem Kane era em sua vida privada, o que o moldou e o significado por trás daquele termo misterioso. Assim, Thompson embarca em uma jornada que revela diferentes facetas do personagem...

Inúmeros cineastas se juntaram aos admiradores de Cidadão Kane, incluindo Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Stanley Kubrick. Já o diretor Ingmar Bergman ironicamente chamou o clássico de "um verdadeiro sonífero". Com todo o respeito ao criador de O Sétimo Selo, sua opinião merece uma discordância veemente aqui.

O primeiro filme considerado como "o melhor da história do cinema": Um clássico indiscutível cujo prestígio permanece intacto

Embora o filme retrate a ascensão de um poderoso magnata da mídia, longe de ser uma análise fria e acadêmica, Welles e Herman J. Mankiewicz injetaram no roteiro uma dose generosa de humor. Tudo começa com uma reportagem exagerada sobre a vida de Kane, que caricatura sua fortuna de forma quase cômica – algo que não pareceria fora de lugar em Patópolis. E os momentos divertidos não param por aí.

Por exemplo, Welles traz à tona uma interpretação carismática e perspicaz de Kane, equilibrando a crítica social com humanidade. As cenas em que o protagonista ainda demonstra charme e sagacidade contrastam com sua posterior decadência – um homem amargurado, egocêntrico e solitário, quase como um Ebenezer Scrooge cuja visão sombria do mundo se tornou realidade.

Impacto visual e tensão narrativa

O que consagrou essa reflexão sobre a mídia e a psique humana como um marco do cinema foi sua linguagem visual. Em 1941, Welles e o diretor de fotografia Gregg Toland resgataram a grandiosidade do cinema mudo, adaptando-a ao sonoro com técnicas inovadoras. O uso estratégico de lentes grande-angulares, por exemplo, amplia simbolicamente o ego de Kane, seu poder ou o vazio que o corrói.

A tensão é intensificada por takes prolongados, que prendem o espectador em momentos-chave da narrativa. Muitos consideram Cidadão Kane um dos primeiros filmes a dominar completamente a cinematografia, explorando planos, ângulos e iluminação para elevar o impacto emocional.

Por ser visualmente deslumbrante, emocionante e, sim, divertido, Cidadão Kane merece sua fama. O filme é simplesmente forte demais para ser ignorado por preconceitos – e o prazer de assisti-lo fala por si.