Pixar em sua melhor forma: Depois de Divertida Mente 2, uma das melhores histórias do estúdio acaba de ser lançada no streaming
Diego Souza Carlos
Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

Como um exercício criativo no campo das animações, Ganhar ou Perder apresenta diferentes perspectivas de um mesmo acontecimento.

Não é segredo para ninguém que a Pixar passou por momentos turbulentos ao longo dos últimos anos com a rejeição de longas como Lightyear e o injustiçado Elementos. A pandemia foi responsável por mudar os mecanismos da empresa e limitar histórias com grandes potenciais para as telonas como Luca, por exemplo, mas agora isso faz parte do passado.

O fenômeno de Divertida Mente 2 foi responsável por reacender o prestígio do estúdio e, embora não tenha conquistado o público e crítica da mesma forma que o longa original, colocou as coisas de volta nos trilhos. É neste cenário de otimismo que Ganhar ou Perder chega ao catálogo do Disney+.

Sobre o que se trata Ganhar ou Perder?

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A série original da Pixar Animation Studios acompanha as histórias entrelaçadas de oito diferentes personagens enquanto cada um deles se prepara para o grande campeonato de softball. A produção revela como é realmente estar na pele de cada personagem – as crianças inseguras, seus pais superprotetores, até mesmo um árbitro apaixonado – com perspectivas engraçadas, muito sensíveis e animadas de uma maneira única.

A Pixar em sua melhor forma

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O AdoroCinema teve acesso aos quatro primeiros capítulos de Ganhar ou Perder, episódios estes que apresentam as histórias de quatro personagens - duas jogadoras, uma mãe influencer e um professor apaixonado.

Com o foco em apresentar diferentes perspectivas de um mesmo acontecimento, detalhando a semana e o dia de um importante jogo de softball, a série dá um tom diferente para a história de cada um dos personagens. Utilizando uma animação que deixa o hiperrealismo de lado para abraçar cores, texturas e possibilidades lúdicas, cada capítulo é um livro colorido de texturas e formatos narrativos.

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Enquanto para Laurie, a insegurança e a ansiedade tomam a forma de uma criatura que cresce de acordo com seus sentimentos negativos, Frank enxerga sua vida de forma gamificada, com influências claras da literatura fantástica e de títulos de RPG. Da mesma forma em que vemos Rochelle se transformar quase em uma super-heroína para proteger a filha, a garota encarna sua versão empreendedora para alcançar um montante necessário para seguir seu caminho no esporte.

No segundo episódio, por exemplo, menos de 2 minutos são o suficiente para que o público enxergue como a criatividade de Ganhar ou Perder se direciona a favor da linguagem - explorar as possibilidades múltiplas da animação gerando um sentimento de conforto e familiaridade com outras histórias da própria Pixar.

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Tais decisões impactam não apenas uma audiência mais nova, mas também são figuras universais para parte dos adultos já está acostumado a mudar para encarar diferentes obstáculos. Embora nesta primeira metade da série estes recursos brilhem com facilidade, também é preciso dizer que há uma carência na ousadia destes tratamentos.

Isso é notável principalmente nas escolhas de roteiro: a história da filha do treinador, por exemplo, foi alterada durante a produção da série. A sua jornada como uma pessoa queer deu lugar a outros anseios por decisões internas do estúdio. Uma vez que se proponha a discutir sobre a infância e a juventude de hoje, o estúdio opta por omitir uma parte importante da contemporaneidade e "joga no seguro" para não enfurecer uma parcela conservadora do público.

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Embora tenha um ritmo de comédia acurado, a série não se resume a piadas e absurdos que provocam risos (ótimos, por sinal), já que a substância do título está justamente em mostrar como existem inúmeras camadas na vida de cada um.

O contraste bem-vindo coloca a dinâmica da vida comum em evidência: não há alegrias sem tristezas e isso nos lembra de que áreas cinzentas refletem mais a realidade do que a binaridade proposta em diversas produções audiovisuais. É quase como colocar o telespectador em um exercício de empatia com o privilégio de assistir aos bastidores da vida pessoal dos personagens.

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Com diferentes visões de um mesmo acontecimento, a história é enriquecida pelas particularidades e desafios vividos por eles, como o medo de não ser o suficiente para os pais, o desejo de se manter otimista mesmo sob condições adversas, a busca por sua própria identidade ou no ato desesperado de se corromper para burlar dificuldades.

Ainda que se proponha a mostrar os bastidores destes personagens em diferentes momentos, Ganhar ou Perder tropeça um pouco ao não encontrar conclusões tão satisfatórias para os episódios, o que nos leva a considerar que a série ganharia muito mais força se fosse vista em uma maratona. Com estes primeiros capítulos, entende-se que o desfecho da trama apresentará a conclusão para a busca de todos apenas no encerramento da temporada.

Ganhar ou Perder
Ganhar ou Perder
Data de lançamento 2025-02-19
Séries : Ganhar ou Perder
Com Will Forte, Kyliegh Curran, Izaac Wang
Usuários
3,5
Assista agora no Disney +

Tentando aos poucos elucidar o conceito que dá o nome à série, do que realmente significa ganhar ou perder, o novo projeto da Pixar tem potencial para agradar os principais fãs do estúdio com uma história cativante que tem seu espaço familiar de histórias anteriores e esclarece de maneira criativa como a subjetividade é importante para compreendermos uns aos outros.

Os dois primeiros episódios de Ganhar ou Perder estão disponíveis no Disney+. Os capítulos inéditos chegam sempre às quartas-feiras no streaming.

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