Não, o Superman de James Gunn não parece "uma série da CW": Seu visual, além de impecável, faz todo o sentido do mundo
Giovanni Rodrigues
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

A conversa nas redes sobre a cultura pop contemporânea foi reduzida a excessos absurdos repetidos até a exaustão.

Parece que, especialmente desde que se mudou para o ambiente de imediatismo e busca por interação das redes sociais, a conversa sobre temas relacionados à cultura pop contemporânea foi reduzida a opiniões excessivas, fáceis e replicadas até a exaustão. Uma frase publicada por uma única pessoa acabará crescendo como uma bola de neve até se tornar uma espécie de mantra com mais sonoridade do que sentido.

O último caso que, a priori, confirma esta teoria, está diretamente relacionado ao aguardado trailer do Superman de James Gunn; uma peça que em poucos minutos desencadeou tantas paixões quanto ódios por parte de detratores. Eles atacaram duramente o tratamento visual do avanço com um refrão como bandeira: "Parece uma série da CW". A emissora norte-americana é conhecida por suas séries juvenis, como Riverdale e The Vampire Diaries.

Warner Bros.

Passei alguns dias quebrando a cabeça para tentar entender de onde vem tal afirmação, e acho que posso reconhecer duas possibilidades. Por um lado, como era de se esperar, temos o costume de produções sombrias, e com uma abordagem "realista" — note as aspas — para cor, contraste e saturação; uma tendência amplamente criticada, mas que alimentou o impacto ao ver a vibrante proposta da nova aventura do super-herói kryptoniano.

Por outro lado, ignorando o absurdo de julgar as qualidades visuais de um vídeo após vê-lo em qualquer monitor depois de passar pela compressão criminosa do YouTube, encontramos uma concepção irreal do que torna uma imagem "cinematográfica". Também há certa obsessão por grãos e texturas extremas e analógicas, profundidades de campo mínimas e predominância de movimento em vez do sempre eficaz tripé.

No que diz respeito ao teaser de Superman, além de ter um acabamento magnífico — recomendo fortemente que o vejam no Apple Trailers e em um bom monitor para apreciar seu finíssimo grão e a suavidade de suas imagens —, as decisões relacionadas à sua abordagem plástica fazem todo o sentido do mundo.

Pode chocar vindo do sombrio e turbulento SnyderVerse, mas não podemos esquecer que o Homem de Aço é um estandarte de esperança e o ângulo mais luminoso da Trindade da DC, completada por Batman e Mulher Maravilha. Isso foi traduzido na tela através da luminosidade — uma grande porcentagem de cenas do teaseer são interiores diurnos ou exteriores diurnos e se arriscam a queimar os destaques — e uma paleta de cores saturada e herdeira do tom geral presente nos quadrinhos do personagem.

Dos quadrinhos ao cinema

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No entanto, o maior acerto de Gunn e seu diretor de fotografia Henry Braham, com quem já trabalhou na saga Guardiões da Galáxia, está na maneira como levam isso um passo além ao mimetizar a linguagem visual da nona arte e levá-la para as telas grandes. Um trabalho que parecem ter levado a bom porto com uma combinação interessantíssima de material: as câmeras certificadas para IMAX RED Raptor V — com sensor Super 35 — e as lentes Leica Tri-Elmar, com três distâncias focais de 16mm, 18mm e 21mm e uma abertura máxima de f/4.

O que significa essa conversa numérica? Para começar, filmar com distâncias focais tão amplas implica que a separação entre personagens e fundos será mínima, passando a estar plenamente integrados em seu ambiente e minimizando a compressão da imagem e o isolamento do sujeito. Soma-se a isso a grande profundidade de campo gerada pela "lentidão" das Tri-Elmar, com um foco profundo no qual grande parte da imagem se apresentará nítida.

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Se pensarmos na linguagem visual puramente dos quadrinhos, é fácil pensar em quadros onde a perspectiva é a chave para gerar profundidade, e não jogos com focos e desfoques próprios da fotografia e do desenho tradicional. Ao combinar a cor, o foco profundo e a composição dos planos do trailer de Superman, parece que estamos olhando para os quadros do All-Star de Grant Morrison ganhando vida por mágica.

Não cairemos na armadilha de dar destaque aos defensores da ideia de que Superman tem o mesmo aspecto que uma série da CW, colocando comparações entre capturas e clipes — na verdade, nem acho que seja necessário. Pode-se gostar mais ou menos do que Gunn e Braham fizeram, mas as imagens falam por si. Sobre as sensações e os arrepios, falaremos em outro momento.

*Conteúdo Global do AdoroCinema

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