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    "Se você fosse pego, era executado": Como Titanic salvou a vida de uma mulher que fugiu da Coreia do Norte
    Lucas Leone
    Lucas Leone
    -Redator | Crítico
    Lucas só continua nesta dimensão porque Hogwarts ainda não aceita alunos brasileiros. Ele até tentou ir para Westeros ou o Condado, mas perdeu a hora do Expresso do Oriente. Hoje, pode ser visto escrevendo no Central Perk mais próximo.

    "O regime não se interessava pelos desejos humanos, e o romance era proibido", revelou Park Yeon-mi.

    Um filme pode salvar sua vida? Enquanto alguns ainda estão considerando a questão, Park Yeon-mi já tem a resposta: sim, mil vezes sim. Depois de ter fugido de seu país, a Coreia do Norte, em 2007, aos 13 anos, ela revelou ao jornal The Guardian em 2014 detalhes sobre a dura realidade da ditadura Kim. Um testemunho aterrorizante.

    Alimentada clandestinamente com produções estrangeiras, como uma rara e salutar janela para o mundo, um título, em particular, foi decisivo para levá-la a deixar sua terra natal: Titanic, de James Cameron.

    O começo de sua história é arrepiante. Com apenas 9 anos, ela foi forçada com toda a escola a assistir à execução da mãe de um de seus colegas de classe. A multidão se reuniu em um estádio para isso. A razão? A vítima teve a infelicidade de emprestar um filme sul-coreano a um amigo... Foi denunciada e acabou baleada.

    No país mais fechado do planeta, em que a autarquia econômica está prevista na constituição e é amplamente apoiada pela propaganda, o mercado clandestino está consideravelmente desenvolvido. Em um país que carece de quase tudo, esse mercado é de vital importância.

    ITAR TASS/BESTIMAGE
    Kim Jong-un assiste a um desfile em Vladivostok, na Rússia.

    A Coreia do Norte é, assim, inundada com produtos legais ou ilegais da China, como aparelhos de DVD. As cópias piratas de filmes que são passadas sob o casaco fazem parte da florescente economia subterrânea. Eles são até objeto de troca: de acordo com Park Yeon-mi, um DVD pode valer quase 2 kg de arroz.

    O suficiente para ajudar uma família assombrada pela fome que se abateu sobre a nação em meados da década de 1990 e matou até 1 milhão de pessoas. "Todo mundo estava com fome, então não podíamos comprar muitos DVDs. Se eu tivesse Branca de Neve e meu amigo tivesse James Bond, trocaríamos", ​​lembrou ela.

    Mas ai de quem for flagrado com um filme não aprovado pelo regime. Ela também contou que há sentenças diferentes dependendo da origem da obra: "Se você fosse pego com um filme de Bollywood ou russo, você era preso por três anos. Mas, se fosse sul-coreano ou americano, você era executado."

    Apesar dos riscos de ser exposta, ela não queria deixar de ver esses filmes pois representavam uma abertura para o mundo. "Meus favoritos eram Titanic, James Bond e Uma Linda Mulher. As pessoas recebiam cópias piratas da China", relatou Park Yeon-mi.

    KCNA via Bestimage
    Kim Jong-un divulga imagens de propaganda mostrando-o cavalgando pelas planícies nevadas do Monte Paektu, na Coreia do Norte.

    Ao The Guardian, ela explicou o impacto que o cinema hollywoodiano teve sobre ela. "Na Coreia do Norte, tudo gira em torno do líder supremo; todos os livros, a música ou a televisão. O que me chateou com o Titanic foi que aquele homem [Leonardo DiCaprio] estava dando a vida por aquela mulher, e não por seu país."

    "Eu não conseguia entender esse estado de espírito. Na cultura norte-coreana, o amor é uma coisa vergonhosa, e ninguém falava sobre isso em público. O regime não se interessava pelos desejos humanos, e o romance era proibido."

    "A outra coisa chocante sobre este filme é que se passa mais de 100 anos atrás. Percebi que nosso país está no século 21 e ainda não atingimos esse nível de desenvolvimento. Entendi que algo estava errado. Todas as pessoas, independentemente de cor, cultura ou idioma, pareciam se importar com o amor, exceto nós. Por que o regime não nos permitia expressá-lo?"

    Hoje com 30 anos, casada e mãe de um menino, Park Yeon-mi mora nos Estados Unidos. Tornou-se jornalista e conferencista. Mas também uma ardente ativista pela causa dos refugiados norte-coreanos.

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