Um super spectáculo
DeMille acabara de ter dois grandes sucessos de bilheteria. Primeiro com o detonado pela crítica Sansão e Dalila. Mas o público não liga para críticos ciumentos e respondeu presente. No fim dos anos 70, o filme foi recortado e ampliado para o formato 70mm. O technicolor tripack era magnífico e os olhos verdes de Hedy Lamar hipnotizaram Sansão e o público como haviam feito com DeMille ele mesmo.
O segundo sucesso foi O Maior Espetáculo da Terra que se tornou um filme culto e passa na televisão americana sempre na época das festas. Cenas ficaram famosas, como a de Dorothy Lamour vestida de abacaxi, se entortando toda ao lado de um James Stewart que tentou acompanha-la, se divertindo visivelmente e dançando com a graça de um boneco de posto.
Os membros da Academia deram com as pontas dos dedos o Oscar ao diretor pelo melhor filme do ano. Nos anos 70, mesmo tratamento bem sucedido de recorte e zoom.
DeMille se sentia em forma aos 71 anos e decidiu de refazer, trinta anos depois seus dez mandamentos.
Grandes mudanças e inovações surgiram depois do “Espetáculo”. Mike Todd surrupiou as lentes anamórficas, inventadas por um alemão mas cuja patente caiu em domínio público depois da guerra. Mesma coisa para o Agfacolor que foi adaptada (afanada?) por George Eastman.
O laboratório Technicolor declarou que não era possível utilizar as lentes do Cinemascope ou Todd-ao em suas câmeras. Não seja por isso. Os produtores pediram a Eastman para utilizarem sua película e, finalmente, o efeito da tela panorâmica podia ser feito em cores por praticamente qualquer câmera (Mitchell de preferência...).
A qualidade das cores EastmanColor não era tão boa quando a do agora obsoleto technicolor. O Mr Kalmus então, vendo que perdera a partida, adaptou seu sistema de tintura de negativos à película Eastman e o resultado foram cores ainda mais bonitas que o tripack. No sistema Eastman não havia restrições. Qualquer cor poderia ser filmada com nididez. O tratamento technicolor era mais caro que os « de luxe », “Metrocolor” e mesmo o Eastmancolor.
Por exemplo, se pegarmos dois filmes feitos quase ao mesmo tempo e pela mesma atriz: Mary Poppins e A Noviça Rebelde. O segundo tem cores bonitas, mas parece uma aquarela. Foi tratado pela “Deluxe”. Mary Poppins guardou o contraste, a saturação e o grão dos techicolors e parece uma pintura à óleo. Além disso, os Eastmancolors desbotaram com o tempo em uma matiz arrocheada, nada agradável. Este problema só foi resolvido no finzinho dos anos 60.
Voltemos agora a 1955. DeMille viu que podia utilizar sem moderação as novas técnicas. Ele escolheu o VistaVision que era um sistema para tela panorâmica mas sem lente nenhuma. Bastava fazer desfilar o filme de 35mm deitado. Achado digno no Professor Pardal. Por outro lado, livre da Harpia e ‘Conselheira das cores” Natalie Kalmus, ele pode filmar à vontade. Em uma cena, vemos Anne Baxter portanto um vestido dourado colado ao corpo (lamé?) de uma cor amarelo vivo, coisa proibida antes.
O VistaVision resultava em uma resolução 4K (sim, já nesta época) e os chãos de granitos polidos, capacetes e armaduras brilhavam reluzentes. Imagem absolutamente lisa e espelhada.
DeMille usou e abusou de todos os efeitos especiais existentes. Ele fez “fondus-enchaînés” de quase um minuto, sobretudo a última cena de Baxter-Nefertari et Brinner-Ramsés, derrotados sentados em seus tronos como em Abul-Simbel, desaparecendo aos poucos para entrarem na mitologia.
Spielberg disse numa entrevista filmada que a abertura do Mar vermelho tinha sido o maior e mais bonito efeito especial que ele já viu.
Claro que a trucagem pode ser refeita muito mais facilmente e talvez mesmo bem melhor que antes. Mas a cena, não. A tempestade se formando, a música que aumenta, Moises levantando os braços e implorando... um pequeno salto na imagem e pronto! Somos presos na mágica do momento.
Mais uma vez os membros da academia demoliram o filme, o dizendo ultrapassado e exagerado. Mais uma vez o público disse o contrário. O filme figura como o quarto maior sucesso de bilheteria de todos os tempos.
Não temo ousar dizer que DeMille era um criador de espetáculos e este filme para mim é como uma história em quadrinhos magnificamente filmada.
Seus filmes são ainda aclamados pelo público de todas as idades e hoje ninguém tem vergonha de gostar desses super espetáculos.