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    Shrek para Sempre
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Shrek para Sempre

    Visita à Origem

    por Francisco Russo

    O grande diferencial de Shrek era a forma como desconstruía os personagens de contos de fadas. A inversão de posições dentro da tradicional trama, aliada a uma boa dose de sarcasmo e dublagens caprichadas, fizeram o sucesso do filme. Shrek 2 veio no mesmo ritmo, trazendo diversas citações ao mundo contemporâneo e um achado: o Gato de Botas. A partir do terceiro, a série deu uma caída. As sátiras ficaram de lado e, apesar de ainda haver inovações e novos personagens, já não tinha a mesma força de antes. Shrek entrava então em um novo estágio, o da aventura com personagens já consagrados. Se por um lado era financeiramente atraente, por outro era artisticamente arriscado. A acomodação é um risco constante.

    Para evitar que isto ocorresse, Shrek para Sempre optou por voltar ao passado. Mais exatamente ao primeiro filme, essencial para a boa compreensão da trama. Tudo inicia com Shrek em plena crise, graças à mudança brusca em sua vida. Agora pai de três bebês, casado, ídolo local e atração turística, pouco restou daquele ogro temível que amedrontava a todos com a simples presença. A rotina também é assassina. Cada vez mais Shrek se irrita com a situação que vive, ao ponto de cometer o mais grave dos erros: lamentar que tudo tenha ocorrido. É aí que entra Rumpelstiltiskin, o vilão de nome complicado que o próprio filme logo passa a chamar por dois apelidos.

    Rumple, ou Stilskin, oferece a Shrek um acordo vantajoso. O ogro tem a chance de recuperar sua antiga vida em troca de um dia de sua infância. É claro que ele aceita e é claro que não dá certo. Shrek é jogado para uma vida alternativa, onde não salvou a princesa Fiona e não conheceu o Burro. Ou seja, nada do exibido desde o primeiro filme aconteceu. É a chance de acompanhar o que seria dos personagens nesta situação e relembrar vários elementos que deram charme à série.

    O grande trunfo de Shrek para Sempre é a aposta na memória afetiva do espectador. Uma viagem ao primeiro filme, com detalhes que agradam justamente por lembrar a diversão que era em sua origem. Não que o novo filme deixe de entreter. Há momentos bastante divertidos, como o surto de Shrek diante da rotina e a primeira aparição do Gato de Botas. Só que há também pouco de novo na história. A própria trilha sonora segue este caminho, ao reutilizar músicas dos filmes anteriores. Além disto, boa parte dos coadjuvantes apenas dá as caras neste filme, sem realmente participar da história. Uma mera aparição para, mais uma vez, usar a memória do espectador em relação à sua presença anterior na série.

    Há também um clima de ser este realmente o capítulo final da saga. O término do filme dá a entender isto, apesar de não ser nem um pouco difícil imaginar um quinto filme sendo realizado. Independente disto, Shrek para Sempre é uma espécie de homenagem à toda a série. Uma revisita ao que foi exibido nos filmes anteriores, de forma a ressaltar a importância de tudo ter acontecido. Afinal de contas, como Charlie Kaufman bem ensinou em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, não se deve esquecer o que foi vivido. São as lembranças que, também, moldam quem você é.

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