O Hulk que não esmagou o suficiente! O ano era 2003, e a ‘Era Heróica’ do cinema dava os seus primeiros passos. Após os sucessos de X-Men (2000) e Homem-Aranha (2002), era só uma questão de tempo até que um outro personagem muito presente no imaginário popular também ganhasse sua chance nas telonas. Eis que surge, portanto, na esteira do sucesso de seus pares, o Hulk de Ang Lee. Mas, algo deu errado... o que teria sido? As criaturas geradas por computador que já nos acostumados a ver nos cinemas evoluíram muito em quinze anos, e o Hulk que hoje temos ao lado dos Vingadores ‘convence’ em textura, expressões e movimentos. Entretanto, a versão em CGI do anti-herói concebida para essa sua primeira incursão na tela grande recebeu duras críticas, sendo considerado superficial demais, quase um desenho animado. Houve até quem o comparasse com o ogro Shrek (não era para tanto)! E, se um filme tem um protagonista digital que não é suficientemente convincente, toda a experiência de assisti-lo pode ficar terrivelmente comprometida. A despeito de seu aspecto visual, contudo, o tom escolhido para o longa parece ter sido, também, equivocado. O diretor taiwanês Ang Lee, conhecido por suas obras ‘sensíveis’, quis dar o seu toque autoral ao personagem, e optou por mergulhar profundamente no psicológico do Dr. Bruce Banner (vivido por Eric Bana) e seus conflitos interiores após os efeitos da radiação à qual foi submetido (nesta versão) desde a infância por seu pai (Nick Nolte), com quem passa a manter uma turbulenta relação. O bombardeio de raios gama que o afeta é só o estopim para que se manifeste nele algo que já estava latente há tempos. Depois de muito suspense (e pouca ação), quando o Hulk finalmente surge em cena – neste projeto que chegou até a ser chamado de ‘filme de arte de super-herói’ – já se passou quase uma hora de projeção. O que vem a seguir é uma série de perseguições incansáveis – em meio a um melancólico deserto – perpetradas pelo exército, sob a liderança do General Ross (Sam Elliott), que vê o Hulk como um monstro a ser combatido, e um desfecho dramático focado no acerto de contas entre pai e filho. Contendo algumas bizarrices, como 'cães-hulk' e o vilão apresentando 'sintomas' de Homem-Absorvente, a trama ainda reserva espaço para o eterno paralelo do gigante esmeralda com A Bela e a Fera, por meio do envolvimento entre Banner e Betty Ross (Jennifer Connelly), a filha do general. A narrativa densa e intimista, somada à atmosfera contemplativa e bucólica, além das peculiaridades acima citadas, fizeram com que a produção não agradasse as grandes plateias. Curioso é que esses mesmos aspectos apontados como defeitos, se vistos sob outro ângulo, poderiam ser considerados como qualidades! Mas essa abordagem intelectual não era a que o público esperava, e o longa de Lee acabou caindo no esquecimento, ainda mais que, apenas cinco anos depois, uma nova versão foi realizada, desta vez já inserida no Universo Cinematográfico Marvel, e com resultados (um pouco) melhores, conseguidos com uma exploração mais agressiva do estilo "Hulk esmaga" do gigante esmeralda. Mas essa é uma outra história...