Twinless
Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Twinless

Dylan O'Brien foge do estigma de Teen Wolf e vive gêmeos em uma história surpreendente sobre luto, relacionamentos queer e obsessão

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O que fazer depois de se tornar um ídolo adolescente? Não é incomum ver astros de grandes franquias, principalmente aquelas que foram bem-sucedidas e voltadas para o público juvenil, se jogando no universo do cinema independente - não somente para mudar os ares, mas também conquistar respeito e boa reputação diante dos críticos. O mais recente caso surge com Dylan O’Brien, famoso por seus papéis de Teen Wolf e Maze Runner.

Em Twinless, Dylan O’Brien interpreta os irmãos Roman e Rocky. Após um acidente fatal, Roman - que é mais bruto e não sabe lidar bem com a raiva - decide se juntar a um grupo de luto destinado para pessoas que perderam seu gêmeo. Em uma dessas reuniões, ele conhece Dennis (James Sweeney), um jovem gay, sarcástico e inseguro que também está lidando com uma perda pessoal.

A partir daí, começa uma inusitada amizade entre os dois homens de personalidades opostas, enquanto Roman tenta aprender a viver com a ausência constante do irmão e os arrependimentos em relação ao relacionamento dos dois .Porém, quando os mundos de Roman e Dennis começam a se misturar, um segredo escondido pode colocar tudo a perder.

A obsessão por gêmeos (e também a falta de compreensão sobre eles) de Twinless

Sony Pictures

Twinless é um projeto estrelado, escrito e dirigido por James Sweeney, que já tinha alguns trabalhos no cenário independente do cinema norte-americano. Mas vem chamando a atenção com sua surpresa de estilos - tudo isso inspirado na fixação da geração dos anos 90 em gêmeos, especialmente aqueles que cresceram assistindo aos filmes das gêmeas Olsen. Algo, inclusive, que é citado no longa.

Vemos tantas histórias de gêmeos em novelas, não é mesmo? Paola e Paulina, Ruth e Raquel… Mas, enquanto a cultura popular tende a colocar esses personagens em lados opostos de um drama, a realidade é que o relacionamento entre irmãos pode ser um laço sagrado. Principalmente com aqueles que você, literalmente, dividiu espaço desde o útero da mãe.

Através de Roman, o filme questiona como é perder uma parte de si mesmo, principalmente numa sociedade que não entende a sua dor. Em primeira instância, ele sofre por ter o mesmo rosto daquele que perdeu, sendo reconhecido nas ruas por uma identidade que não é sua. Em segundo lugar, por viver numa sociedade machista que nunca lhe deu espaço para expressar seus sentimentos mais vulneráveis - o que culminou numa separação entre Roman e Rocky antes da morte do segundo.

Twinless é uma caixinha de surpresas: você nunca sabe o que encontrar

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Sabe quando você encontra um pote de sorvete na geladeira, mas descobre que ali só tem feijão? O que não é ruim, mas, depois de adulto, você percebe que vai ter que cozinhar esse feijão, senão passa fome? É mais ou menos o que senti vendo Twinless. Sem spoilers, mas o longa apresenta uma reviravolta após 20 minutos que muda totalmente a experiência ali observada.

O que começa como uma história que poderia ser sobre amizade acaba se tornando um estudo de personagem (ou, no caso, dois personagens) ao redor do luto e como ele se apresenta de diferentes formas. Mas nem por isso, estamos falando de um filme pesado - pelo contrário, a obra tem vários momentos bem-humorados, mas também apresenta drama e, alguns até diriam, um clima de suspense.

Por mais que sua “fórmula” (digo entre aspas, pois o filme não é engessado, mas tem um estilo pré-determinado) siga um caminho específico, existe um subtexto por trás daqueles relacionamentos que não te deixam observar aquilo apenas de coração quentinho. Você espera “a ficha cair”, o momento que “deu ruim”, ou o “e agora?”. O que torna a experiência mais emocionante e interessante? É claro, mas também cria uma expectativa grande para um final simples demais.

Parece que Sweeney acaba tocando apenas a superfície de seus dilemas, talvez por medo (ou falta de vontade) de criar um clima mais perturbador, ou minimamente complexo - assim como os relacionamentos humanos. O que contém emoção e carisma, acaba deixando pouco tempo para explorar a gravidade da situação e criando uma conclusão apática. O que é triste para um filme tão cheio de referências e momentos marcantes, com visuais inventivos.

Dylan O’Brien brilha como irmãos gêmeos em Twinless

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Outro triunfo de Twinless é seu elenco de coadjuvantes estrelados. Se Lauren Graham (a eterna Lorelai de Gilmore Girls) aguenta muito impacto da carga dramática como a mãe dos gêmeos, Aisling Franciosi (Não Fale o Mal) tem uma performance impecável como Marcie, uma amiga otimista de Dennis que também cruza o caminho de Roman. Chris Perfetti (Abbott Elementary) e Susan Park (Fargo) também surgem com personagens interessantes que circulam por esse universo.

No quesito protagonistas, se Sydney Sweeney apresenta grande desenvoltura como Dennis, é inegável que o filme é uma plataforma perfeita para Dylan O’Brien expressar seu talento. Muitas pessoas da comunidade online estavam mais preocupadas em ver cenas quentes do ator com outro homem, o que gerou burburinho, mas a verdade é que sua interpretação de Roman e Rocky é muito mais que isso.

Mesmo aparecendo brevemente, O’Brien consegue demonstrar as diferenças de Rocky em relação a Roman, seja na sua postura, forma de falar e maneirismos (além de um bigodinho e um figurino ótimo). Por outro lado, ele ganha profundidade em Roman, que não sabe lidar com seus sentimentos, por vezes beirando o abuso de agressividade. Então, por vezes, o papel exige demais de sua fisicalidade, enquanto outros momentos refletem a dificuldade de expressão do personagem em pequenos gestos, mesmo mantendo o rosto sério.

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Por fim, Twinless é uma experiência agradável, que guarda algumas surpresas bem legais durante sua jornada. Realmente, recebi algo completamente diferente do que eu esperava, mas o saldo final é positivo. Principalmente para Dylan O’Brien, que surge com personagens mais diferentes que Stiles e Void Stiles de anos atrás (Essa aqui é uma referência pro fandom de Teen Wolf, de nada!).

Se Kristen Stewart e Robert Pattinson conseguiram superar os estigmas de Crepúsculo, O’Brien parece seguir esses passos certeiros em sua carreira. Ele já encarnou o Jake Gyllenhaal em clipe de Taylor Swift, o que mais pode aparecer em seu futuro?

*O AdoroCinema assistiu ao filme no Festival do Rio 2025.

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