Resgate Implacável marca o retorno da parceria entre Jason Statham e David Ayer, após o sucesso inesperado de Beekeeper no ano passado. A Warner Bros, de olho na bilheteria surpreendente do longa anterior, tentou replicar sua fórmula, acreditando que a simples reunião de Statham e Ayer garantiria outro êxito. No entanto, o resultado não apenas falha em capturar a mesma energia de Beekeeper, como também entrega um filme repleto de clichês, personagens rasos e uma narrativa previsível que não consegue envolver o espectador da mesma forma.
A comparação com Beekeeper é inevitável, principalmente porque ambos os filmes seguem um molde semelhante: um protagonista aposentado, mas altamente treinado, que se vê forçado a voltar à ação para resgatar alguém. Em Resgate Implacável, Statham interpreta Levon Cade, um ex-soldado que agora trabalha em empregos de segurança privada e tem laços com a família Garcia. Contudo, ao contrário do que aconteceu em Beekeeper, aqui a relação entre Cade e os Garcia é praticamente inexistente. O roteiro de Sylvester Stallone e David Ayer não se preocupa em construir conexões emocionais, limitando-se a diálogos superficiais que não convencem. A falta de desenvolvimento nas relações enfraquece a motivação do protagonista, tornando toda a jornada uma sucessão de eventos mecânicos e pouco impactantes.
O problema se estende para outros aspectos do filme. O estresse pós-traumático de Cade, por exemplo, é mencionado apenas como uma desculpa para torná-lo quase sobre-humano em combate, sem qualquer aprofundamento real sobre suas consequências psicológicas. Da mesma forma, sua motivação para lutar—o desejo de ganhar dinheiro para obter a guarda da filha—é mal explorada e nunca parece ter um peso verdadeiro na narrativa. A família da garota raptada, que deveria ser um dos motores emocionais do filme, mal demonstra preocupação, aparecendo apenas nos momentos iniciais e finais da história, como se sua participação fosse meramente protocolar.
Os antagonistas também não ajudam. A gangue russa responsável pelo tráfico humano é repleta de estereótipos baratos, sem qualquer nuance ou profundidade. Eles não representam uma ameaça real e acabam parecendo vilões genéricos de um filme de ação de baixo orçamento. A falta de urgência no resgate torna a missão de Cade ainda mais desinteressante, já que não há um senso real de perigo ou consequências para suas ações.
Ainda que as cenas de ação sejam bem coreografadas, elas não são suficientes para sustentar o filme. Em outras produções, Statham consegue carregar o peso da narrativa com sua presença e carisma, mas em Resgate Implacável, ele simplesmente interpreta uma variação de si mesmo, sem qualquer diferencial marcante. O longa se encaixa perfeitamente no que pode ser chamado de "multiverso Statham", onde o ator faz sempre o mesmo papel, mudando apenas de cenário e de nome.
No fim, Resgate Implacável falha onde Beekeeper conseguiu surpreender: a capacidade de criar uma narrativa envolvente dentro de uma estrutura familiar. O filme parece ter sido escrito apenas para preencher lacunas entre as cenas de ação, sem qualquer esforço para tornar os personagens interessantes ou suas motivações críveis. A Warner Bros apostou na repetição de uma fórmula de sucesso, mas ignorou o que fez Beekeeper funcionar: a entrega de um protagonista com uma história minimamente envolvente e desafios que realmente importavam. Aqui, nada disso acontece, resultando em um longa esquecível e sem identidade.