Desde seu anúncio, Novocaine despertou curiosidade ao trazer um conceito inusitado para o gênero de ação e ao escalar Jack Quaid, ator que vem ganhando destaque em Hollywood com The Boys e Acompanhante Perfeita. A combinação de um protagonista carismático e uma premissa pouco explorada gerou grande expectativa, atraindo tanto os fãs do gênero quanto aqueles que acompanham a ascensão de Quaid. O filme acerta na construção de seu protagonista e no uso criativo da insensibilidade à dor como um diferencial narrativo, mas tropeça ao tentar sustentar seu ritmo frenético até o fim.
A base de Novocaine lembra a franquia Adrenalina, estrelada por Jason Statham, ao utilizar uma condição física extrema como motor narrativo. No entanto, enquanto os filmes de Statham se baseiam na pura adrenalina e urgência, Novocaine mistura essa abordagem com uma dose generosa de comédia, resultando em uma experiência que transita entre sequências de ação intensas e momentos absurdos que beiram o hilário. A Condição Congênita à Dor com Anidrose (CIPA) é explorada de maneira dual: por um lado, ela é uma ferramenta para criar situações cômicas e desafios interessantes para o protagonista; por outro, o roteiro busca um realismo ao mostrar as dificuldades cotidianas que essa condição impõe, desde a necessidade de programar alarmes para ir ao banheiro até o risco constante de ferimentos sem que Nathan Crane perceba.
A narrativa usa um primeiro ato eficiente para estabelecer esses desafios e gerar empatia pelo protagonista. O filme detalha as restrições da CIPA e a forma como Nathan convive com elas, criando um laço com o espectador e garantindo que a condição do personagem não seja apenas uma conveniência narrativa. Esse desenvolvimento inicial permite que o espectador compre a premissa e se envolva na jornada do protagonista, algo essencial para que o humor e a ação funcionem de maneira equilibrada.
O filme ainda brinca com a ideia de que pessoas com essa condição seriam super-heróis, mas faz questão de lembrar que Nathan é um homem comum. Ele não tem habilidades de luta, não é um ex-militar e nunca tentou se aproveitar da sua insensibilidade à dor. Assim, suas sequências de combate são um misto de sorte e improviso, tornando cada confronto imprevisível e cativante. O roteiro sabe explorar esse diferencial, colocando Nathan em situações que seriam impossíveis para qualquer outra pessoa, o que resulta em algumas das cenas mais criativas do filme.
Jack Quaid se prova um protagonista carismático e versátil, equilibrando comédia e ação com naturalidade. Se em The Boys ele já mostrava seu talento para o humor e para cenas intensas, aqui ele tem a responsabilidade de carregar o filme nas costas e o faz com maestria. O elenco de suporte, embora talentoso, acaba sendo subaproveitado, com exceção de Amber Midthunder, que entrega uma boa presença em cena, mas que também poderia ter tido mais espaço na trama.
O problema de Novocaine é que, após dois atos de pura inventividade, a narrativa parece perder o fôlego quando chega ao clímax. O terceiro ato não consegue manter a criatividade e o ritmo acelerado do restante do filme, tornando-se previsível e sem o mesmo impacto das sequências anteriores. O confronto final entre Nathan e Simon (Ray Nicholson) tinha potencial para ser um dos momentos mais memoráveis do filme, mas acaba soando anticlimático quando comparado às batalhas e desafios que vieram antes. Esse desgaste narrativo diminui um pouco o impacto da experiência como um todo, dando a sensação de que o filme não soube como encerrar sua história de forma tão empolgante quanto a iniciou.
No fim, Novocaine é uma experiência divertida e um sopro de frescor para o gênero de ação, conseguindo balancear bem humor e adrenalina. Sua premissa é usada de maneira criativa e Jack Quaid brilha como protagonista, garantindo que a jornada do personagem seja sempre envolvente. O maior problema é que, ao tentar escalar constantemente a intensidade das cenas, o filme esgota seu potencial antes do desfecho, resultando em um final aquém do esperado. Ainda assim, para quem procura uma sessão de entretenimento puro e despretensioso, Novocaine entrega boas risadas, sequências eletrizantes e um conceito interessante bem explorado.