Steven Soderbergh retorna com mais um projeto intrigante, trazendo sua assinatura característica de narrativa enxuta e atmosfera imersiva. Presença desperta a curiosidade por sua abordagem diferenciada, colocando o espectador na perspectiva de uma entidade invisível que observa silenciosamente o cotidiano de uma família em crise. A premissa, por si só, já se destaca no gênero de suspense, mas para quem acompanha a carreira do diretor – e, recentemente, pôde conferir Código Preto nos cinemas brasileiros – o verdadeiro atrativo está na forma como Soderbergh conduz essa história.
O roteiro de David Koepp trabalha de maneira eficiente para instigar o espectador, evitando explicações expositivas e entregando pequenas pistas ao longo da trama. Em Presença, a entidade que acompanha os eventos não tem origem clara, tampouco recebe uma explicação definitiva sobre sua existência ou intenções. Desde os primeiros minutos, o público é inserido em um ambiente repleto de mistério, onde tudo parece seguir um ritmo cotidiano, mas há algo de inquietante no ar. Aos poucos, peças começam a se encaixar, sugerindo o que pode estar acontecendo. A escolha de Soderbergh e Koepp de não subestimar a inteligência do público é louvável, mas também se torna um fator divisivo. O filme não entrega todas as respostas, e mesmo ao final, algumas questões permanecem abertas, gerando frustração em quem busca uma conclusão mais concreta. Esse aspecto pode fazer com que alguns espectadores se apaixonem pelo mistério, enquanto outros se sintam insatisfeitos com a falta de explicações diretas.
Um dos maiores problemas de Presença está na forma como foi promovido. O material de divulgação sugere um terror sobrenatural, levando o público a esperar sustos e um clima mais intenso. No entanto, o que o filme realmente oferece é um suspense psicológico com elementos sobrenaturais. O foco não está na entidade e em sua presença ameaçadora, mas nas tensões familiares e nos conflitos internos dos personagens. Em grande parte da trama, a entidade funciona mais como um observador passivo do que como um elemento de horror. A inquietação vem não de aparições assustadoras, mas das dinâmicas entre os membros da família e das sutis revelações sobre suas vidas. Para quem espera um filme de terror convencional, essa abordagem pode parecer anticlimática, enquanto para aqueles dispostos a embarcar na proposta de Soderbergh, a experiência pode ser bastante instigante.
Outro aspecto que pode gerar reações mistas é o final. A grande revelação sobre a identidade da entidade tem um caráter ambíguo e pode ser interpretada de diferentes formas. Mesmo que o espectador busque explicações em análises e teorias na internet, a sensação de que algo não se encaixa perfeitamente pode persistir. Esse tipo de escolha narrativa não é incomum em projetos que buscam estimular a reflexão e provocar debates após os créditos subirem, mas nem todos os públicos estão dispostos a esse tipo de imersão subjetiva.
No fim das contas, Presença é um filme que exige atenção e paciência. Soderbergh cria um suspense repleto de nuances, onde os detalhes importam mais do que respostas concretas. O longa não pretende ser uma experiência assustadora no sentido tradicional, mas sim um estudo atmosférico sobre luto, relações familiares e mistérios que transcendem o entendimento humano. O resultado é um filme que permanecerá na mente do espectador, seja por sua originalidade e ousadia ou pela frustração de um desfecho pouco convencional.