Após um hiato longe dos holofotes como protagonista, Rami Malek retorna com Operação Vingança, um thriller de espionagem que promete tensão, inteligência e profundidade emocional — mas entrega apenas parte disso. Dirigido por James Hawes, que até então tinha sob seu comando apenas o drama One Life e alguns episódios da série Slow Horses e Black Mirror, o longa flerta com o potencial de ser uma adição marcante ao gênero, mas tropeça naquilo que deveria ser sua espinha dorsal: a emoção e a construção de vínculos reais com seus personagens.
A premissa parte de uma tragédia pessoal: Charles Heller, um criptógrafo da CIA, vê sua esposa ser assassinada e embarca em uma jornada de vingança. É a partir dessa motivação que a trama se desenrola, mas o envolvimento do público com esse luto e essa perda nunca chega de fato a existir. A relação entre Charles e Sarah, vivida por Rachel Brosnahan, é estabelecida em cenas breves e superficiais no início, com pequenos gestos do cotidiano tentando transmitir uma conexão preexistente. No entanto, o roteiro se mostra apressado em nos convencer dessa intimidade, utilizando frases genéricas e memórias repetitivas que retornam ao longo do filme como tentativas forçadas de reafirmar a dor do protagonista. Em vez de emoção, o que vemos são recursos mecânicos, quase didáticos, para reforçar as motivações de Charles — um esforço que soa mais como insistência do que desenvolvimento.
Apesar dessa fragilidade narrativa, há méritos na forma como o longa constrói sua ambientação. A direção de Hawes acerta ao nos inserir com autenticidade no submundo da inteligência americana, utilizando a estética da espionagem moderna e o uso funcional da tecnologia para sustentar a proposta de um personagem inexperiente enfrentando um grupo terrorista. A figura do criptógrafo, deslocado do campo de batalha e mais próximo da lógica do escritório, é um diferencial interessante, que oferece ao filme um viés mais cerebral. O problema é que, com o tempo, essa abordagem vai se esvaziando, e o que era para ser uma jornada inventiva e emocionalmente carregada se torna um roteiro convencional, com um desfecho acelerado e sem peso dramático.
Rami Malek, conhecido por sua entrega intensa e expressiva, escolhe aqui um caminho mais introspectivo, interpretando Charles como alguém frio, contido e reflexivo. No entanto, essa frieza destoa do contexto emocional em que seu personagem está inserido. A perda recente de sua esposa, a insegurança diante da violência e os riscos de se aventurar em campo sem preparo exigiriam um protagonista mais vulnerável, mais inquieto. A interpretação de Malek, embora tecnicamente competente, não casa com o arco emocional que a narrativa tenta vender. Parece haver uma dissonância entre o que o personagem vive e como ele é retratado.
O elenco de apoio, que conta com nomes fortes como Laurence Fishburne e a própria Rachel Brosnahan, infelizmente é subutilizado. Seus personagens são acionados pontualmente, mais como ferramentas de roteiro do que como figuras vivas dentro da história. Eles surgem e desaparecem conforme a conveniência da trama, sem deixar qualquer marca significativa ou contribuir de forma mais profunda para a evolução emocional de Charles. É uma pena, considerando o talento disponível e o potencial de explorar mais dinamicamente as relações ao redor do protagonista.
O maior problema de Operação Vingança talvez seja a forma como ele constrói expectativas que não cumpre. A primeira metade do filme oferece bons momentos, com cenas em que Charles precisa improvisar soluções, testando seus próprios limites, o que confere ao personagem certa humanidade. Mas conforme a narrativa avança para o terceiro ato, tudo se acelera sem controle. O clímax, que deveria carregar o peso de toda a jornada, se perde em uma mudança abrupta de tom, entregando um final morno e apressado, muito distante da tensão emocional prometida no início.
No fim das contas, Operação Vingança é um filme que tinha todas as peças para ser memorável: um protagonista talentoso, um elenco promissor, uma ambientação eficaz e uma premissa emocional potente. Mas falta coesão, falta desenvolvimento, falta alma. O estilo está lá, mas o impacto não. Um projeto que, embora esteticamente funcional, carece de profundidade emocional para se destacar dentro de um gênero tão competitivo quanto o da espionagem contemporânea.