G20 chega prometendo tensão internacional, ação explosiva e um toque de renovação ao tradicional subgênero de “presidente em perigo”. Com Viola Davis no centro da trama como a presidente dos Estados Unidos, o filme parte de uma premissa instigante: e se, em meio ao encontro das maiores potências globais, a presidente fosse também uma ex-militar com traumas do passado e a única esperança diante de uma ameaça terrorista? Somando a isso, temos Antony Starr — o Homelander de The Boys — como o antagonista, o que eleva o interesse por um possível duelo dramático e físico entre dois atores de grande presença. Mas tudo isso é promessa. Na prática, G20 se revela uma obra frustrante, conduzida por uma direção insegura, roteiro frágil e uma execução que falha em quase todas as suas propostas.
Patricia Riggen, que assina a direção, possui experiência limitada no gênero de ação, e isso fica evidente logo nas primeiras sequências. O filme é incapaz de estabelecer uma atmosfera convincente para o que deveria ser um thriller político de alto impacto. O uso da inteligência artificial como elemento de ameaça tecnológica é genérico e preguiçoso, e a ambientação, apesar de prometer tensão diplomática global, nunca consegue criar real imersão. A ação — que deveria ser o coração pulsante do filme — é pontuada por cortes excessivos, montagem apressada e cenas em que os dublês são visivelmente destacados, quebrando completamente a sensação de urgência ou autenticidade.
O roteiro, assinado por três profissionais pouco experientes em grandes produções, sofre com a falta de profundidade. O passado da presidente, seus vínculos emocionais com a filha, sua equipe e até mesmo com seu chefe de segurança são tratados de forma rasa, com diálogos expositivos e relações que não ganham tempo para se desenvolver. A protagonista é constantemente lembrada de seu passado militar, de sua força, de sua resiliência, mas tudo isso é mais falado do que mostrado de maneira convincente. Quando finalmente temos uma cena de confronto físico, ela vem carregada de clichês, previsibilidade e uma execução visual que entrega mais constrangimento do que empolgação.
Viola Davis, como sempre, entrega o que pode com o que tem. Sua presença impõe respeito, seu olhar comunica muito, e sua performance é, de longe, o ponto mais sólido do longa. Mas nem mesmo ela, com todo o seu talento, consegue sustentar um roteiro que não lhe oferece material suficiente para brilhar como merece. Há momentos em que sua personagem quase desponta como algo memorável, mas a direção hesitante e o texto limitado a puxam de volta para um terreno morno e genérico.
Já Antony Starr, embora mantenha sua intensidade característica, não consegue escapar da sombra do Homelander. Sua composição parece uma reciclagem da mesma persona, apenas sem superpoderes. Mesmo tentando se distanciar fisicamente com uma barba mais robusta, a semelhança em trejeitos e expressão torna inevitável a comparação. Sua vilania é superficial, sua motivação quase inexistente, e o embate entre ele e a presidente nunca alcança a tensão que o filme tenta vender.
G20 se propõe a ser um thriller de ação com protagonismo feminino forte e uma abordagem atualizada do cenário geopolítico. No entanto, o que vemos é um projeto perdido entre o desejo de ser algo grandioso e a incapacidade de executar com competência. Falta intensidade, falta emoção e, principalmente, falta uma visão clara do que o filme quer ser. O resultado é um longa esquecível, que depende inteiramente do carisma de Viola Davis para não naufragar por completo — e mesmo ela, aqui, está nadando contra a maré.