Invocação do Mal 4: O Último Ritual chega aos cinemas com um peso enorme nas costas: encerrar uma das maiores franquias de terror dos últimos tempos e, ao mesmo tempo, tentar superar a recepção negativa de seu antecessor. O terceiro filme já havia sido alvo de críticas por fugir da essência dos dois primeiros capítulos e por apresentar um antagonista sem o mesmo impacto de figuras como Annabelle e A Freira. Dessa vez, a expectativa era de um retorno às origens, algo que pudesse dar aos fãs um desfecho digno. Porém, ao trazer praticamente a mesma equipe criativa do filme anterior, já havia um indício de que talvez estivéssemos diante de mais um tropeço, e de fato é o que se confirma.
Na trama, acompanhamos Ed e Lorraine Warren já aposentados, principalmente por causa dos problemas cardíacos de Ed, que agora vivem ao lado de sua filha adolescente, Judy. A tranquilidade não dura muito quando Judy se envolve com uma família atormentada por espíritos e demônios, trazendo de volta uma entidade que conecta o passado de Lorraine ao presente. Essa dinâmica familiar se torna o eixo central da narrativa e, nesse ponto, o filme consegue emocionar. Existe um clima de despedida que se sustenta nas atuações intensas de Vera Farmiga e Patrick Wilson, que continuam a carregar a franquia com carisma e presença. A adição de Judy também dá frescor à história, permitindo que o público perceba como acompanhou o crescimento da personagem ao longo dos anos e agora se despeça dela junto dos pais. A química entre os três e até mesmo a inclusão de um namorado de Judy trazem esse senso de família que humaniza o longa e o diferencia dos anteriores.
O problema é que, ao investir tanto na dimensão emotiva, o filme deixa de lado o que deveria ser sua principal força: o terror. E aqui reside uma das maiores contradições do longa. Ele tenta se equilibrar entre o horror não mostrado, aquele que se constrói no olhar das vítimas, no jogo de câmera e nas sombras ao fundo, e o terror explícito, com entidades reveladas em cena. Quando aposta no primeiro, o resultado é eficiente: Michael Chaves consegue criar momentos de tensão genuína ao explorar o desconforto diante do desconhecido. As reações dos personagens, o uso de elementos cotidianos que se transformam em gatilhos de medo e o clima de suspense sustentam boas sequências. Porém, quando o filme precisa mostrar suas criaturas, tudo desmorona. O CGI é mal-acabado a ponto de distrair o espectador, tirando qualquer impacto das cenas que deveriam causar pavor. O que deveria ser assustador se transforma em algo quase risível, e o pior é que o próprio diretor parece dar destaque a esses efeitos falhos em momentos cruciais, como nos jumpscares. Essa fragilidade técnica mina a credibilidade do terror e reforça a sensação de que o filme se prometia grandioso, mas se mostra limitado e pouco inspirado.
O antagonista, que deveria ser memorável, é justamente o mais fraco de toda a franquia. Enquanto Annabelle e A Freira marcaram presença a ponto de ganharem filmes próprios, aqui temos uma entidade genérica e mal desenvolvida. O clímax, que deveria ser épico e aterrorizante, se reduz a um embate contra um objeto amaldiçoado. Para uma saga que sempre se destacou por confrontos finais intensos e viscerais, esse desfecho soa simplista demais. Até mesmo o problema cardíaco de Ed, introduzido como um elemento que poderia trazer vulnerabilidade e urgência, é tratado de maneira superficial: em um momento ele mal consegue se mover, no outro está correndo e pulando em meio à ação como se nada tivesse acontecido. O roteiro desperdiça a oportunidade de transformar essa fragilidade em um recurso dramático que ampliaria a tensão.
Outro aspecto decepcionante é o tratamento dado à família atormentada que inicialmente motiva o retorno dos Warren. O roteiro até introduz esse núcleo com certo cuidado, mas rapidamente os personagens são deixados de lado. Depois que se encontram com os protagonistas, eles praticamente desaparecem da narrativa, tornando-se apenas um pretexto para movimentar a trama. Esse descaso contrasta com os dois primeiros filmes, em que as famílias em perigo eram parte fundamental da história e mantinham o público investido em seu destino. Aqui, a sensação é de que tudo gira em torno da despedida dos Warren, enquanto os coadjuvantes se tornam irrelevantes.
No fim, Invocação do Mal 4: O Último Ritual é, sem dúvida, o capítulo menos assustador da franquia, mas também o mais emotivo. O carisma de Vera Farmiga e Patrick Wilson, aliado ao frescor que Mia Tomlinson traz como Judy, sustenta boa parte da experiência e mantém o público interessado em acompanhar aqueles personagens. Existe um valor inegável em ver essa família que aprendemos a conhecer ao longo dos anos se despedindo em um tom melancólico. Contudo, quando pensamos na essência da franquia, que sempre foi entregar vilões icônicos, cenas de pavor memoráveis e finais eletrizantes, este encerramento fica muito aquém do esperado. O que deveria ser o grande caso da vida dos Warren se revela uma trama morna, marcada por efeitos falhos, sustos previsíveis e uma ameaça sem peso.
Assim, o filme até consegue emocionar, mas não assusta. Até consegue encerrar uma história, mas não honra a grandiosidade da franquia. Até consegue trazer um clima de despedida, mas não deixa aquela sensação de apoteose que um capítulo final deveria provocar. O Último Ritual se despede de forma melancólica, não apenas pelos sentimentos que evoca, mas pela constatação de que a franquia merecia um final muito mais grandioso e aterrorizante do que este.