Desde que foi anunciado, F1 gerou uma onda de curiosidade difícil de ignorar. Com Brad Pitt no papel principal, direção de Joseph Kosinski – que recentemente brilhou com Top Gun: Maverick – e ambientado em um dos esportes mais emocionantes e perigosos do mundo, o filme parecia carregar todos os ingredientes para ser um dos grandes eventos cinematográficos de 2025. Some-se a isso os rumores sobre seu orçamento milionário (com valores oscilando entre 200 e 300 milhões de dólares) e uma produção que começou ainda em 2023, e temos um longa envolto em expectativas – e dúvidas.
Surpreendentemente, F1 encontra seu lugar entre o deslumbre técnico e a fragilidade narrativa. É, sem dúvida, uma das experiências mais imersivas do cinema recente. Desde os primeiros minutos, o espectador é lançado para dentro dos carros de Fórmula 1 e dos bastidores das corridas, com sequências captadas em eventos reais, em meio a nomes consagrados como Verstappen, Leclerc e Hamilton. Essa imersão é potencializada por uma mixagem de som primorosa, provavelmente uma das mais impactantes do ano. Cada motor possui uma identidade sonora própria, os freios, colisões e vibrações são tratados com tamanha precisão que o filme quase exige ser sentido mais do que visto.
Grande parte desse mérito também vem da inovação técnica: um carro construído especialmente para o longa, equipado com 16 câmeras, permitiu filmagens em alta velocidade que capturam Brad Pitt em plena ação. A imersão é total. E quando a trilha sonora entra em cena, o espetáculo se intensifica. Hans Zimmer, como de costume, entrega uma composição marcante, rica em sons metálicos e construções que elevam os momentos de tensão e adrenalina. É uma trilha digna de Oscar, e que se junta aos aspectos técnicos como um dos grandes trunfos do longa.
Mas se F1 acelera nas pistas, seu roteiro parece estar constantemente em ponto morto. A decisão de tratar cada curva do enredo com explicações didáticas – tanto nas questões técnicas do esporte quanto nos dramas pessoais dos personagens – enfraquece a fluidez da história. Ehren Kruger, ao lado de outros quatro roteiristas que revisaram o texto, parece não confiar na inteligência do espectador. Tudo precisa ser verbalizado, quase como se estivéssemos assistindo a uma transmissão para iniciantes no mundo da Fórmula 1. O excesso de narração quebra o impacto das corridas e acaba subestimando até mesmo o público que pouco conhece sobre o esporte.
O drama do protagonista Sonny Hayes (Brad Pitt) e sua rivalidade com Joshua Pearce (interpretado por Damson Idris) são tratados com clichês previsíveis e pouco desenvolvimento. O roteiro insiste em forçar motivações sem dar profundidade aos personagens. A tensão entre eles é rasa, e mesmo o desfecho dessa relação não consegue entregar o peso dramático necessário. Há um medo constante de que o público não “entenda” o que está acontecendo, o que transforma diálogos em manuais de instrução, tanto sobre a mecânica da Fórmula 1 quanto sobre sentimentos humanos.
Essa necessidade de mastigar cada elemento narrativo compromete até mesmo as relações mais importantes do filme. Momentos que deveriam ser carregados de emoção são diluídos por explicações desnecessárias. A conexão entre os personagens, por vezes, soa artificial. O roteiro opta pelo óbvio e pelo seguro, quando o universo que o cerca gritava por algo mais ousado.
Ainda assim, F1 se sustenta como um grande evento cinematográfico – talvez o maior do ano em termos de experiência audiovisual. É um filme que pede para ser visto na tela grande, com som potente e atenção total. Em casa, numa televisão comum, boa parte do impacto se perderia. O longa tem chances reais de marcar presença nas premiações, principalmente nas categorias técnicas, mas dificilmente será lembrado como uma obra memorável no campo do drama esportivo.
No fim das contas, F1 entrega uma corrida visual e sonora impecável, mas tropeça quando o assunto é contar uma boa história. É um espetáculo para os sentidos, mas que falha em atingir o potencial dramático. E talvez, para um filme sobre um esporte tão passional, isso seja um freio que custa caro.