O atentado ocorrido durante as Olimpíadas de Munique, em 1972, já foi abordado por diferentes perspectivas no cinema, sendo o thriller Munique (2005), de Steven Spielberg, a interpretação mais famosa do evento. No entanto, Setembro 5, dirigido por Tim Fehlbaum, adota um ângulo diferente: em vez de focar nos terroristas ou nas vítimas, o filme mergulha na cobertura jornalística do ataque, acompanhando a equipe da rede ABC, que se viu na posição inesperada de ser a única fonte de informações transmitindo a tragédia ao vivo para o mundo.
A narrativa de Setembro 5 se desenrola em um curto espaço de tempo, cobrindo essencialmente os dias 5 e 6 de setembro de 1972. Com apenas 94 minutos de duração, o filme não se preocupa em contextualizar detalhadamente os eventos históricos ou os personagens envolvidos; pelo contrário, já nos joga diretamente na ação, colocando o espectador dentro da sala de transmissão, onde jornalistas e técnicos tentam compreender e reportar o que está acontecendo. Embora o roteiro introduza rapidamente os integrantes da equipe, muitos deles acabam relegados a meros coadjuvantes, com John Magaro assumindo o protagonismo central.
O grande destaque do filme está na forma como ele é conduzido. A montagem ágil de Hansjörg Weißbrich e a direção intensa de Fehlbaum criam uma atmosfera de tensão constante, transformando Setembro 5 em uma experiência claustrofóbica e imersiva. O longa praticamente não sai do ambiente da sala de transmissão, o que reforça a sensação de urgência e impotência diante dos acontecimentos. Essa escolha estilística mantém o espectador sempre atento, sem espaço para respiros, replicando a pressão vivida pelos jornalistas.
Entretanto, essa abordagem tem suas limitações. O roteiro se concentra quase exclusivamente na cobertura jornalística, deixando de lado um aprofundamento maior sobre o contexto do atentado. Fehlbaum assume que o público já conhece os eventos históricos, e aqueles menos familiarizados podem sentir a ausência de um embasamento mais sólido. Temas como as tensões geopolíticas da época, o impacto do ataque na Alemanha — país que ainda tentava reconstruir sua imagem após a Segunda Guerra Mundial — e as implicações do atentado para os Jogos Olímpicos são apenas mencionados superficialmente.
Por outro lado, o filme se destaca ao explorar dilemas éticos do jornalismo, levantando discussões sobre a busca pela audiência em momentos de crise, a responsabilidade de transmitir informações em tempo real e os impactos de notícias falsas. Esses elementos garantem que Setembro 5 tenha relevância além do contexto histórico, ressoando fortemente com o cenário da comunicação atual.
No quesito atuações, o filme não se apoia em performances emocionais grandiosas, mas conta com um elenco sólido. John Magaro, Peter Sarsgaard e Leonie Benesch — esta última em ascensão após Sala de Professores — entregam atuações competentes, reforçando a autenticidade dos bastidores de uma cobertura jornalística sob extrema pressão.
Em resumo, Setembro 5 é um thriller eficiente e eletrizante, que acerta ao capturar o caos e a adrenalina da transmissão ao vivo de um dos eventos mais chocantes da televisão. Ao optar por um foco restrito à perspectiva jornalística, o filme se mantém imersivo e dinâmico, mas também abre mão de um aprofundamento mais amplo sobre as consequências históricas do atentado. Ainda assim, para aqueles interessados no funcionamento da imprensa em momentos de crise, o longa se torna um estudo fascinante sobre a tensão entre informação, ética e espetáculo.