Lançado de forma quase silenciosa pela Netflix, Caos e Destruição chegou ao catálogo sem o alarde que normalmente acompanha as grandes apostas da plataforma. Não houve campanhas robustas nem grandes trailers promovendo o longa — apenas a presença magnética de Tom Hardy no papel principal serviu como o grande chamariz para os espectadores apertarem o play. O restante do elenco, inclusive o excelente Forest Whitaker, quase não figura nos materiais promocionais, o que já evidencia onde estão os focos da produção. Nos bastidores, também não havia uma expectativa grandiosa: o roteiro e a direção ficaram a cargo de Gareth Evans, conhecido por seu trabalho na franquia Operação Invasão e na série Gangues de Londres, mas ainda sem um grande sucesso consolidado no currículo.
Entretanto, Caos e Destruição se revela uma grata surpresa para os fãs do gênero. Não há aqui uma trama complexa, repleta de reviravoltas ou atuações memoráveis dignas de premiações. O filme não pretende ser nada além de um veículo de entretenimento brutal, direto e, em muitos momentos, extremamente eficaz. Gareth Evans, em entrevista, deixou claro que sua intenção era prestar uma homenagem aos filmes de ação de Hong Kong das décadas de 1980 e 1990, especialmente aos clássicos do subgênero conhecido como "heroic bloodshed". E, mesmo que o resultado final não seja uma homenagem impecável, é inegável que o diretor entrega uma experiência intensa, carregada de adrenalina e com cenas de ação que impressionam pelo nível de brutalidade e realismo.
O longa exala violência gráfica com efeitos práticos, lutas coreografadas com precisão e uma direção de câmera que busca inserir o espectador dentro da ação. O sangue jorra, os ossos estalam e tudo é conduzido com uma crueza que se aproxima do visceral. Não é exagero afirmar que Caos e Destruição é um dos filmes mais violentos e impactantes dos últimos tempos nesse subgênero — e não no sentido gratuito, mas como uma estilização consciente, que remete aos tempos em que a ação não dependia exclusivamente de CGI ou cortes frenéticos. As sequências de combate são brutais, sujas e verossímeis, e duas cenas em especial são o coração pulsante do longa: extensas, bem dirigidas e com um nível técnico digno de aplausos. São nesses momentos que o filme se transforma, ganhando vida, ritmo e personalidade.
No entanto, fora dessas sequências, o longa tropeça. A narrativa é rasa e desinteressante, com motivações genéricas e personagens que pouco se desenvolvem ao longo do tempo. O início é especialmente arrastado e repleto de clichês, com um Tom Hardy que parece revisitar maneirismos de sua atuação em Venom, entregando uma performance que oscila entre o cansado e o funcional. A ambientação é genérica e a construção do universo, limitada. Há tentativas de estabelecer relações emocionais, especialmente entre o personagem de Hardy e figuras secundárias, mas nenhuma delas tem força suficiente para gerar envolvimento real com o público.
Ainda assim, para quem assiste a um filme de ação esperando exatamente isso — ação —, Caos e Destruição cumpre seu papel com louvor. Não é uma obra completa, longe disso, mas dentro da proposta de entreter com cenas de combate bem coreografadas e visualmente impactantes, ele se destaca. A brutalidade é o fio condutor da experiência, e Evans demonstra ter carinho especial por essas sequências, que claramente foram mais cuidadas do que todo o restante do roteiro. A direção, apesar de desequilibrada, acerta exatamente onde deveria: nas batalhas físicas, no peso dos impactos e na tensão dos confrontos.
Ao final, fica claro que Caos e Destruição seria um filme completamente esquecível se não fossem por essas duas cenas-chaves que elevam o patamar da produção. São elas que justificam sua existência e que, de certa forma, redimem a falta de profundidade narrativa e o desenvolvimento pífio dos personagens. Se o espectador conseguir abrir mão de exigências maiores em relação ao roteiro e mergulhar na proposta de Gareth Evans — que é, essencialmente, entregar pancadaria estilizada e brutalidade ininterrupta —, o filme se torna uma boa pedida para os fãs de ação que sentem falta de produções com peso físico e impacto real.