O Telefone Preto (The Black Phone)
"O Telefone Preto" é escrito, dirigido e produzido por Scott Derrickson (juntamente com C. Robert Cargill no roteiro e Jason Blum na produção). É uma adaptação do conto homônimo de 2004 de Joe Hill (filho do escritor de terror de longa data Stephen King). O longa é estrelado por Mason Thames, Madeleine McGraw, Jeremy Davies, James Ransone e Ethan Hawke. No filme, Finney Shaw (Mason Thames) é sequestrado e enquanto permanece no cativeiro ele usa um telefone misterioso (preto) para se comunicar com as vítimas anteriores de seu sequestrador (Ethan Hawke).
Scott Derrickson sempre trabalhou com o gênero terror ao longo de toda a sua carreira, em filmes como "Lenda Urbana 2", "Hellraiser: Inferno", "O Exorcismo de Emily Rose", "A Entidade", "Livrai-nos do Mal", sempre esteve envolvido em roteiros, produções e direções. Após a saída de Derrickson da direção de "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", alegando diferenças criativas com a Marvel Studios, ele foi diretamente trabalhar em "O Telefone Preto", que já era um projeto que ele planejava fazer.
"O Telefone Preto" chega com a promessa de ser o grande terror do ano, mas será que realmente ele é?
Derrickson está muito criativo no longa, nos mostrando bastante competência por sua fidelidade na adaptação do material de origem, ao nos mergulhar em um thriller de terror sobrenatural com um clima e uma ambientação totalmente anos 70. De fato toda a construção e estética do filme é completamente imergida nos anos 70...desde a fotografia que possui uma paleta de cores vibrantes no maior estilo setentista. A direção de arte está muito fiel e dentro do padrão com cenários, carros e várias referências. Os figurinos estão bem ajustados. A cenografia é muito bem construída e nos situa perfeitamente dentro de todo o universo do filme. A trilha sonora é rica em detalhes e nos traz um material completamente fiel ao que se propõe o filme.
O longa de Scott Derrickson nos traz várias referências a outros filmes do gênero: como no caso da obra de Stephen King, "IT", que se destaca como a principal referência e inspiração para o filme, obviamente se deve pela adaptação da obra de Joe Hill. "O Telefone Preto" presta uma verdadeira homenagem a "IT", desde o seu ótimo elenco teen, a cidadezinha, a perseguição do sequestrador com os balões pretos (Pennywise usava balões vermelhos), o clima soturno e a atmosfera sombria que se instala entre o sequestrador e o Finney, principalmente entre os seus diálogos. Temos uma cena perto do final do filme, quando Gwen (Madeleine McGraw) está andando de bicicleta na chuva, ela está vestindo uma capa de chuva amarela idêntica à que Georgie Denbrough usava quando foi levado pelo Pennywise. Maiores homenagens, referências e inspirações que estas são impossíveis.
Ainda podemos notar referências a outras obras como "Halloween", "O Sexto Sentido", "Os Goonies", e até obras que envolve o próprio Scott Derrickson, como "A Entidade" e "O Exorcismo de Emily Rose".
Por outro lado o roteiro do filme é bem clichê, pois tudo que ocorre com o Finney nós já estamos meio que esperando, e muito pela própria sinopse e pelos trailers que se encarregaram de entregar boa parte da história e seus desdobramentos. Temos um começo muito interessante e promissor com o elenco teen, os responsáveis em preparar todo o terreno para o que virá a seguir. De fato o primeiro ato do filme é bom, mas a partir do segundo (a parte do cativeiro) o ritmo cai bastante se tornando lento e repetitivo em sua fórmula. O longa é bem construído e bem arquitetado em quase todos os níveis, mas fica devendo em seus componentes mais intrigantes e que poderiam engrandecer ainda mais a obra, por vezes se perdendo e se deixando levar para um drama familiar já batido. Por outro lado temos um vilão assombroso, macabro, sombrio, metódico, que em até certo ponto é bem construído, mas o roteiro peca exatamente ao decidir contar uma história de serial killer relativamente convencional, por vezes previsível em excesso, chegando no típico terror genérico.
O elenco infanto-juvenil é o ponto mais positivo de todo o filme!
Temos a pequenina Madeleine McGraw, que é sem dúvida a melhor de todo o elenco, a que entregou a melhor atuação como Gwen, a irmã do Finney. Madeleine é uma atriz jovem e muito talentosa, que começou sua carreira cinematográfica ainda bem cedo, aos 6 anos em "Sniper Americano". Hoje ela já coleciona em seu currículo filmes como "Homem-Formiga e a Vespa", "Círculo de Fogo: A Revolta" e "A Maldição da Chorona", que acredito que este último deve ter alçado a sua carreira em direção ao "O Telefone Preto". Aqui Madeleine dá um verdadeiro show de interpretação, pois é dela praticamente todos os momentos mais relevantes na trama, com uma atuação muito segura, muito bem conduzida, ela se destaca notoriamente em meio à todos do elenco. Aquela cena que ela apanhou de cinto do pai me cortou o coração, pois ela chorava copiosamente e verdadeiramente, uma verdadeira aula de atuação - sensacional!
Mason Thames (da série For All Mankind) é o protagonista de toda a história e ele entrega uma boa atuação, ele consegue mesclar bem aqueles momentos de angústia e tensão com os momentos que lhe exige um algo a mais, que lhe exige um posicionamento dentro da trama, ou seja, quando ele é apenas um garoto amedrontado na escola, passando pelo sequestro e chegando no ápice final do seu modo ataque no último ato do filme. Mason é um bom ator, tem um futuro bastante promissor.
Ethan Hawke sendo Ethan Hawke, ou seja, nos entregando o que ele sabe de melhor na arte de atuar. Hawke nos impressiona com uma performance assustadora, sombria, macabra, com uma postura fria, inquieta, densa, taciturna, que condizia perfeitamente com seu personagem tétrico, pitoresco, tenebroso, categórico e sempre letal. Show, a palavra que define a atuação de Ethan Hawke é show, simplesmente adorei seu personagem, pra mim foi uma escolha perfeita para o papel. Destaque para as várias máscaras assustadoras que ele usa ao longo do filme, cada uma expondo diferentes partes de seu rosto. As máscaras foram desenhadas pelo lendário maquiador protético Tom Savini (o "The Godfather of Gore", pelo seu extremo fascínio por maquiagem de monstro).
Respondendo a pergunta acima: "O Telefone Preto" tem muito potencial e é muito funcional mas não chega a ser o grande terror do ano, mas com certeza ficará entre eles. É um filme muito bom, muito convincente, presta grandes homenagens e trabalha bem aquela mescla de produções true crime com o horror sobrenatural. De fato temos um thriller arrepiante e assustador, muito por conta da presença vilanesca, com ótimas atuações do elenco infanto-juvenil, com uma cinematografia e uma atmosfera satisfatória. Mas por outro lado o roteiro peca bastante por se tornar lento e repetitivo, e em até certo ponto soa como preguiçoso e clichê. Mas o saldo final ainda é bastante positivo, vale muito a pena conferir esta obra peculiar de Scott Derrickson. [16/07/2022]