Um Trem em Jerusalém: Crítica AdoroCinema

A premissa do novo filme do israelense Amos Gitai é tão simples que nem parece que ele executou uma ficção: registrar conversas entre dezenas de pessoas que entram a bordo de um trem na cidade de Jerusalém. Assuntos pessoais, sociais, religiosos e sobretudo políticos misturam-se ao longo dos vagões entre diferentes horários apresentados. Os diálogos e os questionamentos nunca param, assim como o meio de transporte escolhido como pano de fundo.

Do subúrbio ao centro, é na rotina daquelas pessoas que vamos registrando as dúvidas e ideias faladas em voz alta. Um Trem em Jerusalém capta bem esta noção de que os mais simples diálogos não são necessariamente desnecessários. O trivial e as pequenas coisas que podem passar despercebidos formam o cerne do longa - que, além de possuir uma estrutura simples, remete ao teatro pela divisão de micro histórias que vão se encaixando aos poucos.

Outro aspecto interessante é como a percepção e consciência de quem assiste é um complemento dos próprios diálogos. Afinal, todos estão interligados com o cenário político e/ou social contemporâneo, portanto é inevitável encaixar tais pensamentos dentro de nossa própria realidade. Isso intensifica a qualidade de uma obra que não opta por grandes planos de câmera e nem grandes atuações, mas sim no poder do que é comum. Do que já está ali todos os dias.

Um adeus, uma briga de casal, uma conversa entre estranhos sobre a situação em Jerusalém, uma relação entre pai e filho. Estas e tantas outras situações fazem parte de Um Trem em Jerusalém, obra que usufrui de sua "normalidade" para nos fazer enxergar questões que também fazem parte de nossa rotina.

Não há nada mais interessante do que, vez ou outra, olhar por onde passamos todos os dias e realmente prestar atenção no entorno. Sem precisar de muitos artifícios, Amos Gitai faz isso e mostra a universalidade que o cinema consegue alcançar - ainda deixando registrado o quão importante é falarmos sobre o que está lá fora, mesmo que rapidamente.

Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.