O título A Mula, do filme dirigido por Clint Eastwood, é auto-explicativo. A história do longa é centrada na figura de Earl Stone (Eastwood), um horticultor e veterano da Guerra da Coréia, que, aos 90 anos, passa por uma grave crise financeira. Com um perfil que facilmente passaria longe do radar da polícia, afinal nunca sofreu uma multa na vida, Stone é recrutado para trabalhar como mula (pessoa que transporta uma determinada quantidade de drogas para os carteis), dirigindo pelas estradas dos Estados Unidos, em troca de grandes quantias de dinheiro.
Apesar deste ser o elemento principal de A Mula, a verdade é que o eixo principal do roteiro escrito por Nick Schenk (com base no artigo escrito por Sam Dolnick) está na figura de Earl e na sutileza como Clint Eastwood aborda as questões pessoais que a personagem vive. Earl é um homem solitário (por escolha própria), que trata com amor seu hobby pelo cultivo e criação de orquídeas; ao mesmo tempo em que trata com desprezo sua ex-esposa Mary (Dianne Wiest) e a filha Iris (Alison Eastwood).
O filme aborda muito além da mudança de padrão de vida que Earl passa a experimentar quando se torna uma mula do tráfico. A obra toca nas transformações pessoais pelas quais Earl vai passando no decorrer do longa.
O interessante é perceber que, mesmo ciente dos seus erros e de seus defeitos, Earl não tenta modificar a si mesmo. Ele compreende o que fez de errado e encontra, na relação com a neta Ginny (Taissa Farmiga), a chance não de reconstruir o que já está quebrado, mas sim de recuperar o tempo perdido e poder fazer diferente quando uma nova chance se apresenta a ele.
Por isso mesmo, o elemento dominante de A Mula é seu diretor e ator principal Clint Eastwood, o qual é um dos representantes mais marcantes da Hollywood à moda antiga na atualidade. O que Clint emula, a credibilidade que ele possui, é repassada para Earl Stone. E, mesmo diante de uma personagem cheia de imperfeições, passamos a admirar e a torcer por ele. O senso de justiça e de honra pessoal que Earl – e Clint, por tabela – nos passam é ainda mais digno de admiração.