Fiz questão de criar uma conta para tecer essa crítica porque, depois de ler tantos comentários que demonstram falta de compreensão do filme, eu não poderia deixar de pontuar algumas questões.
O filme traz uma discussão interessantíssima sobre o senso de ética e justiça que permeiam a sociedade. Com isso, a história nos apresenta logo de início uma linda relação de pai e filho. Nos apegamos aos personagens porque a narrativa foca nessa vida familiar.
Quando o filho é espancado, nos deparamos com o primeiro ato de violência. O pai, inconformado pela violência cometida contra seu amado filho, começa a nutrir um sentimento de raiva. A princípio, busca provas para apresentar à polícia. Contudo, como as provas são obtidas ilegalmente, a polícia não pode aceitar e ainda o prende. Esse acontecimento marca o rompimento com a crença na justiça, agravando a sensação de raiva e injustiça.
A partir desse momento, o pai se vê sozinho e decide fazer "justiça" com as próprias mãos. Depois de inúmeros dilemas se é certo fazer algo - a maioria desses dilemas ficam visíveis nas feições e comportamentos -, resolve matar um dos garotos que espancou seu filho.
O filme chega a ser catártico nesse momento, pois, ainda que saibamos que vingança com as próprias mãos nunca é a melhor alternativa, compactuamos com o acontecimento por acompanharmos todo o sofrimento do pai.
O brilhantismo da obra, contudo, vem ao final. Quando a ex-namorada mostra cenas de um estupro praticado pelo mesmo garoto que fora espancado, fica claro o motivo do espancamento. Todo o sentimento de "solidariedade" ao pai vai por água abaixo e só nos resta questionamentos importantes, tais como: É correto fazer justiça com as próprias mãos? Temos conhecimento de todos os fatos? Conhecemos as pessoas que nos cercam? Elas sempre merecem defesa, não importa o que façam?
Como pudemos perceber, o filme aborda muitas questões e mexe com o espectador por vários motivos. É como se fôssemos traídos durante a história, Acreditávamos que o garoto era uma boa pessoa, porém foi capaz de estuprar a ex-namorada, a quem o pai, depois de saber toda a verdade, ainda trata mal e a manda embora. Essa cena revela justamente como vítimas de estupro são tratadas, além de escancarar toda a hipocrisia envolvida. Afinal, o pai buscava justiça, inclusive foi capaz de fazê-la com as próprias mãos, mas quando descobriu que seu filho era o causador de tudo aquilo, que era um estuprador, seu sentimento de "justiça" desapareceu, a ponto de agredir a real vítima, colocando-a para fora e apagando a única prova do estupro. Vemos aqui revelada a hipocrisia, uma justiça seletiva.
Enfim, o filme é muito bom. O suspense é constante. Há, sim, pontos que ficam aquém do esperado, como trilha sonora e algumas cenas que eram longas desnecessariamente. No entanto, o enredo é bem construído, com pistas ao longo dos acontecimentos, e que, ao final, escancara a sociedade hipócrita em que vivemos.