ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD (Once Upon a Time in Hollywood)
Nono filme de Quentin Tarantino e talvez o mais aguardado! Este filme de Tarantino teve todo um marketing desenvolvido na pré e na pós produção, todo um trabalho para aguçar cada vez mais o espectador pra sua estreia, foi muito bem vendido e os trailers se encarregaram de transmitir toda euforia. Tarantino sempre teve esse poder em suas produções.
Como já é de praxe, Quentin Tarantino dirige, roteiriza e produz o seu novo longa. E como um grande fã e apreciador do diretor, criei toda uma expectativa com seu novo filme. Acompanhei a produção do filme e fui imaginando como seria a forma que Tarantino iria adotar para contar a sua história se passando em uma Los Angeles do anos 60, até por ser tratar de uma clara homenagem a uma Hollywood e ao cinema dos anos 60. Por outro lado o longa estaria inserido (ou vagamente) nos acontecimentos que envolvia Charles Manson e sua família, como o próprio assassinato da Sharon Tate, que na época estava grávida do diretor Roman Polanski. Isso era exatamente o que me passava pela cabeça e vendo tudo isso pelos olhos de um diretor do nível de Quentin Tarantino, não tinha como dar errado.
Once Upon a Time in Hollywood eleva mais uma vez o grande trabalho desenvolvido por Tarantino, aqui podemos claramente observar seu toque e sua marca registrada em tudo. Como na direção de arte, que está completamente impecável, tudo feito minunciosamente bem detalhado dentro da época, com um cuidado e uma atenção incrível. Somos jogados para dentro de uma Hollywood dos anos 60 com uma exatidão extrema, onde tudo nos impressionava, como os carros, os cenários, as vestimentas - uma direção que foi muito bem premiada no Oscar. Outra marca de Tarantino são os diálogos, e aqui eles também estão inseridos (talvez não na mesma proporção de 'Oitos Odiados' e 'Pulp Fiction'), está bem agradável acompanhar aquele sotaque carregado com um linguajar mais chucro da época. A fotografia está bem inserida na trama e faz uma grande diferença para nós. A trilha sonora é bem regada por várias músicas dos anos 50/60. Assim como o trabalho de cenografia, montagem, mixagem e edição de som, tudo feito com a cara do Tarantino.
Outro grande diferencial de Quentin Tarantino é sua facilidade e inteligência em criar personagens que se tornam icônicos ao longo dos tempos (como o Coronel Hans Landa em 'Bastardos Inglórios' / a Noiva em 'Kill Bill' / Jules Winnfield em 'Pulp Fiction'). E aqui ele cria mais dois ótimos personagens que são Rick Dalton (DiCaprio) e Cliff Booth (Pitt). Personagens de altíssimo nível, que estão muito bem inseridos na história e funcionam muito bem, um completando o outro da sua maneira. Dalton como um grande ator que estava em decadência e ainda almejava um grande papel na indústria hollywoodiana. E Booth como um fiel dublê e escudeiro de Dalton, sendo que ele próprio se contentava com o trabalho de dublê, mesmo com sua pinta de galã que podia alçá-lo em uma outra categoria.
Leonardo DiCaprio entrega mais um trabalho em altíssimo nível (como já estamos acostumados). A facilidade que DiCaprio tem em se colocar bem e atuar bem em qualquer papel é absurda, e aqui presenciamos mais uma vez o grande ator versátil que ele é (destaque para aquela cena junto com a atriz mirim). Muito bem justificada suas indicações no Critics' Choice Awards, no BAFTA, no Globo de Ouro e no Oscar 2020.
Brad Pitt é um showman e aqui ele está completamente à vontade no personagem e assim podemos usufruir de mais uma de suas grandes performances ao longo de sua carreira. Pitt consegue está ainda melhor que DiCaprio, por sua postura arrojada, canastrona, com aquele seu linguajar e seus trejeitos, nos entregando uma atuação elevada que se desprende e se destaca de todas as outras do filme. Pitt ganhou o Critics' Choice Awards, o BAFTA, o Globo de Ouro e o Oscar, ou seja, tudo que esteve indicado este ano.
Porém, eu achei o Tarantino muito acomodado nesse seu nono filme, acho que ele quis jogar na segurança, faltou aquela sua ousadia, faltou mais originalidade. Por mais que em todos os filmes do diretor nós observarmos algo tirado de suas produções anteriores, aqui seu filme bebe novamente dos trabalhos passados. Logo ao início você se depara com coisas trazidas de 'Kill Bill', 'Bastardos Inglórios', 'Pulp Fiction', que pra mim me passa a falta de originalidade, de se reinventar novamente. Este é o roteiro que eu mais questiono do diretor, e olha que em questões de roteiros originais Tarantino sempre deu uma aula...
A questão do roteiro de Once Upon a Time in Hollywood pra mim é questionável pelo fato de ter nos vendido uma coisa e no fim foi entregue outra, ou talvez não da forma que eu esperava, ou imaginava. Começando pela parte que envolveria a família Manson, em que eu esperava algo mais bem construído, quando eu achava que o longa fosse abordar um pouco mais esta passagem daquela época. Porém ficou só naquela cena final dos jovens maníacos invadindo a casa de Dalton, algo que eu esperava muito mais, se tratando do potencial do Tarantino e desse massacre causado pelos seguidores de Charles Manson na década de 1960, que apavorou os americanos.
A própria sinopse do longa nos vendia que de alguma forma os personagens fictício de Tarantino conheceria pessoas influentes na indústria cinematográfica e que acabaria os levando aos assassinatos realizados por Charles Manson, entre eles o da atriz Sharon Tate. Mas não é bem isso que acompanhamos, até pelo fato da Sharon Tate de fato não morrer grávida como na história real. Posso até entender aonde o Tarantino queria chegar nessa questão com a Sharon, por querer contar uma história diferente da original (como ele fez em 'Bastardos Inglórios'), mudando seus fatos e fazendo uma releitura diferente para suavizar aquela tragédia histórica. Porém pra mim soou como uma falta de verossimilhança!
Margot Robbie (atriz que eu sou muito fã) está completamente estonteante e linda na pele da também estonteante e linda (na época) Sharon Tate. Sharon foi uma atriz e modelo norte-americana e uma das mulheres mais bonitas do cinema da década de 1960, sendo considerada com a atriz mais sexy do cinema naquela época. Sharon era casada com o cineasta polonês Roman Polanski. Ela viria a morrer de forma trágica aos 26 anos, sendo brutalmente assassinada quando estava grávida de nove meses, pelas mãos da família Manson, uma seita de jovens maníacos, seguidores de Charles Manson. Robbie entrega o ela tem de melhor ao incorporar a Sharon de uma maneira tão brilhante, tão carismática, tão doce, com aquele sorriso, aqueles olhares, aqueles trejeitos, que nos passava completamente o que a Sharon Tate foi naquela época em Hollywood. Eu achei uma atuação muito rica de expressões e muito segura por parte da Margot Robbie, agora se realmente era para ela está indicada a melhor atriz coadjuvante no BAFTA, bem, ai já é uma outra questão.
Como já é de costume, Tarantino traz um elenco de peso em suas produções. Mas eu acho que os maiores destaques ficaram mesmo à cargo de Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, e porque não, Margot Robbie.
Temos uma presença ilustre de Al Pacino, que em suas poucas aparições já nos ganhava apenas nos diálogos, porém estamos falando de Al Pacino né!!! Dakota Fanning que também entregou uma boa atuação em sua única cena. Kurt Russell, ator que eu acho incrível, e sempre nos entrega algo no mínimo bom. Bruce Dern sempre atuando em alto nível e aqui não foi diferente. Além de Emile Hirsch, Margaret Qualley, Timothy Olyphant, Austin Butler, Michael Madsen, Mike Moh, Damian Lewis e Rafal Zawierucha.
Once Upon a Time in Hollywood teve 12 indicações no Critics' Choice Awards, vencendo em 4. 10 indicações no BAFTA, vencendo em 1. 5 indicações no Globo de Ouro, vencendo em 3. No Oscar o longa obteve 10 nomeações à estatueta, incluindo a mais importante - melhor filme, porém saiu vencedor em apenas 2, justamente as duas que eu achei mais justas.
Quentin Tarantino nos entrega mais um grande trabalho, uma grande produção (isso é inegável). Mas no meu ponto de vista é um trabalho menos inspirador do diretor, menos ousado, principalmente no roteiro, aonde pra mim ela peca um pouquinho. Once Upon a Time in Hollywood pode até ser considerado um grande trabalho de Tarantino, mas quando olhamos para trás e vemos obras do diretor à níveis de 'Bastardos Inglórios', 'Kill Bill', 'Django Livre' e 'Pulp Fiction', eu só tenho a certeza que este filme foi apenas uma grande homenagem ao cinema hollywoodiano dos anos 60, uma carta de amor do diretor para aquela época de ouro do cinema norte-americano. [26/04/2020]