Minha conta
    A Natureza do Tempo
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    A Natureza do Tempo

    Masculino e feminino

    por Taiani Mendes

    Na Argélia atual, três histórias se conectam de forma sutil. Estreando em longa-metragem, o diretor Karim Moussaoui oferece um panorama da sociedade argelina, um passeio por seus cenários e uma reflexão sobre o embate entre os sexos feminino e masculino no contexto islâmico não tão radical quanto em outros países do continente africano e Oriente Médio, mas ainda forte. A Natureza do Tempo é interessante e conta com personagens bem construídos, mas é chato.

    Karim abre sua obra com o conto mais estruturado do filme, que acompanha Mourad (Mohamed Djouhri), investidor do ramo imobiliário cujo filho não quer saber de estudar. Como um típico privilegiado que não se segura para dar tudo do bom e do melhor para o herdeiro, ele faz o tipo “amigão”, o que irrita a mãe do rapaz, de quem Mourad é separado. A madame diz que ler jornal a deprime, está insatisfeita com o momento nacional e não entende a juventude. A companheira atual de Mourad é mais jovem, não consegue trabalho por ser francesa e tampouco está feliz com o país e o comportamento do marido. Tentando se equilibrar entre as duas forças, ele, para piorar, é golpeado por um dilema moral.

    A segunda trama mostra o motorista Djalil (Mehdi Ramdani) fazendo o favor de conduzir Aicha (Hania Amar) à cidade de seu futuro marido, na companhia dos pais. Durante o caminho acidentes acontecem e o relacionamento dos jovens é explicado. Nessa parte Karim mostra-se ousado, escapando do tom anterior inserindo música, dança, cores, uma espécie de flashmob totalmente inesperado, e até brincando com a mudança de foco que constrói o longa – tudo isso sem esquecer do drama. Na sequência o peso retorna com tudo trazendo o problema do neurologista (Hassan Kachach), pronto para mudar de vida para melhor, mas assombrado por uma decisão esquecida no passado.

    Originalmente chamado “À Espera de Andorinhas”, A Natureza do Tempo segue um ritmo lento, com muitas esperas e gestos ordinários. A unidade se faz presente pelos cenários visitados de carro e são ricos os temas e eficientes a maioria das interpretações, mas se trata de um longa extremamente maçante - com exceção de alguns trechos da história romântica com ares de Antes do Pôr do Sol - e os 113 minutos são sentidos como no mínimo o dobro. Os acontecimentos são tristes, porém os golpes são tão secos quanto duros, incapazes de quebrar o gelo sonífero que encapsula o espectador.

    O roteiro assinado pelo diretor e Maud Ameline, no entanto, resolve bem a passagem de bastão do protagonismo pelos três homens de diferentes gerações marcados por certa passividade no relacionamento com as mulheres; mulheres estas que, apesar do poder nessa troca específica entre quatro paredes, socialmente ainda são vulneráveis e não existem desacompanhadas.

    A questão da responsabilidade e da atuação (ou não) diante de um crime é boa base para discussão e uma das coisas que o filme consegue transmitir é a insegurança do homem argelino contemporâneo, cheio de segredos e expectativas não cumpridas.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    Back to Top