A testemunha falsa não ficará sem castigo, e aquele que despeja mentiras perecerá. – Provérbios 19:9. Uma frase em uma rápida e despercebida cena do filme “Eli” que, quando finalizado, torna-se muito coerente com o decorrer de toda a trama.
Eli é um filme divido entre cenas de jump scares e insinuações suspeitas que aumentam a tensão de forma equilibrada, porém marcante. Com um personagem principal acometido por uma doença que afeta seu sistema imunológico lhe dando “alergia ao mundo” e cujo os pais estão em uma exaustiva busca por tratamentos, a quantidade de subtramas e variações científicas, psicológicas e religiosas aplicáveis a essa premissa são diversas dentro do gênero de terror e do próprio filme.
O que poderia ser uma falha no desenvolvimento da história, na verdade é um ponto positivo muito bem organizado na produção onde são dados sutis apontamentos de reviravoltas que o filme poderia adotar, sem ser estragado por seu real final escolhido pela direção.
A empatia e agonia transmitida pela condição médica do personagem, muito bem apresentada na atuação Charlie Shotwell, além de seu próprio terror experimentado pelas terríveis figuras que ele alega ver na suspeita casa em que realiza seu tratamento, juntamente da frieza da médica interpretada por Lili Taylor, característica do famoso termo “médico monstro” onde a ciência é tão clara e superior às necessidades dos pacientes, formam uma sinistra dualidade que só é incrementada e influenciada pelo suspense da própria personagem de Sadie Sink, de Stranger Things, onde nos perguntamos várias vezes sobre a realidade de seu personagem no mundo ou só na cabeça do menino doente, e pela presença firme de seus pais exaustos e conflitantes que são incrédulos sobre as alegações macabras de seu filho que se diz assombrado na casa em que estão para o tratamento.
Todo esse cenário fantasmagórico faz esse thriller psicológico com dezenas de explicações assumir uma forma resoluta e com um final talvez até cogitado em um ou dois momentos do filme, mas surpreendente e bem elaborado ainda assim. Eli é um daqueles filmes em que o plot twist pode ser considerado muitíssimo perto de seu final, mas que todo o desenrolar culmina para o equilíbrio entre o aumento de tramas e suspenses e a sua filtragem até a chegada do momento derradeiro, tirando esse terror
“religioso"
da categoria de “mais um daqueles filmes”.
Chega até a ser engraçado quando percebemos a quantidade de referências de passagens e números bíblicos e satanistas no decorrer das cenas depois que terminamos de assistir ao filme.