Minha conta
    In My Room
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    In My Room

    Improvável distopia

    por Bruno Carmelo

    O que você faria se acordasse um dia e descobrisse que o resto do mundo desapareceu? Se caminhasse pelas ruas e visse casas vazias, carros abandonados, percebendo ser o último ser humano do planeta, cercado apenas por animais? Buscaria uma solução, faria sua própria investigação?  No caso deste drama alemão, o protagonista Armin (Hans Löw) não faz quase nada. Ele retorna à casa onde nasceu, passa a viver como fazendeiro, cuidando dos bichos tranquilamente.

    In My Room surpreende pela recusa ao espetáculo. Num contexto hollywoodiano, a mesma premissa seria o ponto de partida para um suspense inquietante, ou uma ação frenética. Mas neste caso, Armin sequer pretende descobrir de onde veio o problema. É compreensível que o filme não queira dar explicações, mas pouco verossímil que o personagem não fique nem um pouco curioso diante da situação. Inicialmente, a jornada poderia ser uma metáfora do luto, já que o operador de câmera de 40 anos de idade acaba de perder a avó, de quem era muito próximo. Mas o roteiro evita este caminho. A solidão representa apenas a própria solidão.

    O diretor Ulrich Köhler aposta, portanto, numa aventura anticlimática. Depois de apresentar longamente a personalidade de Armin, essas informações são pouco exploradas no mundo distópico. De repente, ele se revela um exímio agricultor e fazendeiro, embora não soubéssemos de sua relação com a natureza. Quando a inação começa a dar sinais de desgaste, o roteiro convenientemente traz uma mulher humana, de idade próxima à do personagem, e também sobrevivente desta calamidade silenciosa. Obviamente, eles se aproximam, se unem, num idílio de Adão e Eva.

    É difícil perceber onde o cineasta pretende levar a sua história. A personalidade da garota é mal resolvida – seus gestos violentos soam abruptos – os atores têm atitudes vacilantes, ora pacíficos, ora irritadiços. A câmera se limita a observá-los de modo apático, nem se aproximando dos corpos, nem abrindo os enquadramentos a ponto de inseri-los numa imensidão vazia. Köhler desfila nu durante diversas cenas, sem explicação concreta para tal. Quem tem um chuveiro à disposição, mas prefere tomar banho com garrafa de água mineral? Quem tira todas as roupas durante um incêndio para sair de casa nu? Ocasionais momentos de humor tratam de lembrar que o projeto não se leva muito a sério.

    Se a intenção era provocar um estranhamento, In My Room certamente atinge seus objetivos. A narrativa se fecha de modo competente, pelo menos indicando os rumos que Armin e Kirsi (Elena Radonicich) devem tomar. Mas para o espectador, fica a impressão de que nunca realmente entramos naquele universo, e que a realidade da solidão e do desaparecimento tampouco foi experimentada pelos personagens. Diante da tela do cinema, atravessamos este enigma incólumes.

    Filme visto no 71º Festival Internacional de Cannes, em maio de 2018.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    Back to Top