Por que as ficções científicas de Hollywood volta e meia teimam em subestimar a inteligência do espectador? Assim como aconteceu com
Prometheus e
Passageiros, este é o grande problema do ambicioso
Vida. Maior até do que a insistência em plagiar sucessos do gênero, algo explícito em vários momentos deste novo trabalho do diretor
Daniel Espinosa (
Protegendo o Inimigo).

De início, o longa-metragem até é promissor. A partir do balé gerado pelos movimentos dos astronautas em ambiente sem gravidade, Espinosa extrai um belo e interessante plano-sequência através do qual os personagens e a própria estrutura da estação espacial são apresentados. Logo a seguir, uma trombada cósmica com um satélite artificial traz uma certa ação, por mais que tudo se resuma a efeitos especiais bem executados e trilha sonora que amplifique a tensão - formulaico, mas funcional. Deste impacto vem o verdadeiro protagonista do filme: um ser unicelular, vindo diretamente de Marte.
Após ser despertado a bordo, o tal ser ganha importância imensa: trata-se da prova inconteste de que há vida fora da Terra! O clima de entusiasmo logo toma conta não só da tripulação, como da própria humanidade: a muitos anos-luz de distância, todos acompanham atentamente o desenvolvimento de Calvin, o marciano - nome escolhido a partir de um concurso entre crianças. A afeição imediata está estabelecida, mesmo que pouquíssimo se saiba sobre tal organismo.
Flertando com questões existencialistas acerca da humanidade e o uso de conquistas espaciais como propaganda,
Vida rapidamente abandona tais temas para assumir de vez seu lado suspense. Calvin, cada vez mais, se desenvolve - ele não é mais unicelular, mas possui características de um músculo. Ainda assim, o fascínio em torno da descoberta serve de trampolim para o desleixo e, a partir dele, o perigo. É quando
Vida, de forma escancarada, assume seu lado
Alien, o 8º Passageiro.

A partir de então, Espinosa deixa de lado a criatividade para investir, firme e forte, nos clichês do gênero. Mais ainda: o roteiro da dupla
Rhett Reese e
Paul Wernick (a mesma do sucesso
Deadpool) apresenta seguidas situações absurdas, que não fazem o menor sentido dentro do ambiente em que a trama se situa e nem mesmo pelo lado narrativo. É como se a coerência não mais importasse em nome de toda e qualquer possibilidade de tensão - que sequer é bem executada, especialmente na tediosa metade final.
Diante de tantos equívocos,
Vida rapidamente abandona a ambição de início e se contenta em ser um mero filme de monstro no espaço, apoiado em constantes reviravoltas mal fundamentadas. Os astronautas, estereotipados ao extremo e seguindo a proposta da diversidade internacional, pouco importam -
Jake Gyllenhaal e
Rebecca Ferguson estão corretos, os demais são apenas corpos flutuando pela estação.
Ryan Reynolds, ao menos, é protagonista de uma certa quebra de expectativa em relação ao longa-metragem, ainda antes do roteiro se tornar uma imensa bagunça.
Com ecos de
2001 - pelas andanças na estação espacial - e
Gravidade - pela caminhada no exterior da mesma -,
Vida apresenta um punhado de referências a outros filmes sem que isto resulte em algo novo criado a partir deste material prévio ou, ao menos, que seja um plágio competente. Mesmo quando incorpora de vez seu lado
Alien, não consegue construir um algoz tão ameaçador quanto o temido xenomorph. Mas, pior que isto, é o fato de subestimar seguidas vezes a inteligência do espectador no decorrer da narrativa, pecado mortal para um filme que, tão promissor, optou em ser apenas mais um na multidão.