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    Juntos e Misturados
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Juntos e Misturados

    Cuba cabe numa casa

    por Bruno Carmelo

    Durante décadas, o socialismo praticado por Fidel Castro foi radicalmente agressivo aos gays em Cuba, perseguindo-os e condenando-os ao isolamento. Desde que Raúl Castro assumiu o governo, com a ajuda de sua filha Mariela Castro, a situação tem se transformado sensivelmente: foram criadas leis contra a homofobia e as cirurgias de redesignação genital foram aprovadas.

    É neste contexto que se encontra o Mejunje, casa de Havana conhecida por acolher todos aqueles perseguidos pela sociedade. São especialmente gays, lésbicas e transexuais, mas também roqueiros (os shows de rock não tinham apoio do governo na época de Fidel), ex-coroinhas da igreja, adolescentes rebeldes, alcoólatras. O documentário de Nicolás Muñoz decide mostrar esse espaço como um projeto social inovador, e mais do que isso, como um exemplo para toda a sociedade.

    O filme se sai bem ao representar a pluralidade cultural, sexual e política. O cineasta acompanha a rotina de uma dezena de personagens diretamente afetados pelo Mejunje, participando das atividades mais variadas, que vão desde teatro infantil até desfile de travestis e concertos de punk rock. Ao mesmo tempo, estas figuras excluídas reivindicam sua cidadania, consideram-se revolucionárias e adoram o mesmo Fidel que os excluía. O patriotismo fala mais alto: Juntos e Misturados transpõe diversas questões sociais e históricas para o interior de uma única casa, compondo um mosaico metonímico da ilha.

    Ao mesmo tempo, alguns fatores prejudicam a obra. Muñoz acredita que “basta ter amor” para criar uma sociedade tolerante, e por isso enuncia uma série de amores apresentados em cartelas, com o nome de “ingredientes”. São os fatores supostamente responsáveis pelo sucesso da casa: o amor de mãe, amor próprio, dores de amor, amor guerreiro etc. A separação é ingênua e mesmo infantil, lembrando o início da educação das crianças, quando são levadas a compor pequenas redações com ingredientes como “uma pitadinha de amor”, “uma colher de amizade” ou algo do tipo. O olhar pueril beira a inconsequência: para apresentar um alcoólatra com distúrbios psicológicos graves, o filme faz um episódio alegre com o título “amor numa garrafa”.

    Do mesmo modo, alguns diálogos soam artificiais, como se fossem conduzidos pelo diretor. Certos entrevistados estão tão conscientes da presença da câmera que atuam para ela, dizendo o que acreditam que o diretor espera deles. Diante do naturalismo das ações, dos concertos e das leituras de poemas, os depoimentos lembram um vídeo institucional do Mejunje. Mesmo assim, o saldo de Juntos e Misturados é positivo, por compreender a complexidade social como uma soma das partes, e por fazer questão de sublinhar o papel político destes personagens numa Cuba em transformação.

    Filme visto no 23º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2015.

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