Desde que o primeiro trailer de Nas Terras Perdidas foi divulgado, já havia no ar aquele pressentimento inescapável de que estávamos diante de uma tragédia cinematográfica anunciada. A estética genérica, os visuais em CGI duvidoso e o reencontro entre o diretor Paul . Anderson e sua parceira criativa de longa data, Milla Jovovich, acenderam os alertas em qualquer espectador mais atento. Afinal, a dupla já havia deixado sua marca em obras como Resident Evil e Monster Hunter — produções que, apesar de seus nichos dedicados, sempre flertaram com o raso. Somando a isso, temos Dave Bautista no elenco, em mais uma tentativa frustrada de emplacar papéis dramáticos após sua saída do MCU, e o próprio Anderson retornando à direção após um hiato de cinco anos. Tudo isso embalado como uma adaptação de uma obra de George . Martin. Mas o resultado final é um desastre completo — e o que é mais preocupante: um desastre sem qualquer identidade, alma ou propósito.
O que se vê na tela é uma colcha de retalhos mal costurada de referências e ideias nunca desenvolvidas. Nas Terras Perdidas tenta, de forma patética, misturar o pós-apocalíptico de Mad Max com a estética desértica de Duna, temperando tudo com um verniz raso de bruxaria e misticismo religioso. O conceito até poderia funcionar nas mãos de um cineasta mais refinado e uma equipe criativa com apreço pelo gênero da fantasia. No entanto, Paul . Anderson parece mais preocupado em esconder as deficiências visuais com uma fotografia opaca e artificialmente turva do que em realmente criar um universo que justifique o gênero ao qual o filme pertence.
A direção de arte e os cenários digitais são tão genéricos e pobres que nem mesmo os efeitos especiais conseguem mascarar a estética de “filme de fundo verde”. O mundo criado é vazio, desinteressante e desprovido de qualquer tipo de mitologia própria. É como se bastasse posicionar os atores diante de um CGI duvidoso, jogar algumas palavras mágicas ao vento e esperar que o público aceite aquilo como fantasia. Pior: o roteiro sequer se esforça em construir essas regras ou ambientações — tudo acontece sem contexto, sem explicações e sem qualquer tipo de progressão narrativa minimamente coerente.
A montagem é outro desastre à parte. O filme simplesmente não consegue sustentar uma única cena por mais de trinta segundos sem inserir um corte abrupto, criando uma experiência confusa, fragmentada e irritante. É impossível criar qualquer empatia ou vínculo com os personagens quando a narrativa não para em pé por mais de um minuto. E mesmo que a edição fosse mais respeitosa, o roteiro por si só já se encarregaria de afastar qualquer tentativa de conexão emocional. Os diálogos são artificiais, a química entre os protagonistas é inexistente e as tentativas de forjar momentos emocionantes beiram o constrangimento.
Dave Bautista, que tanto falou sobre explorar lados dramáticos na carreira, está preso aqui em um personagem raso, sem propósito e sem desenvolvimento. Milla Jovovich, por sua vez, parece apenas cumprir tabela — repetindo maneirismos e expressões que já vimos inúmeras vezes em seus papéis anteriores. Não há peso dramático, não há presença cênica e, principalmente, não há entrega. Tudo é vazio, como se os próprios atores não acreditassem no que estão fazendo.
E se ainda houvesse alguma esperança de redenção com uma reviravolta narrativa, o filme trata de enterrá-la antes mesmo de começar. O grande “plot twist” é anunciado nos primeiros minutos, destruindo qualquer possibilidade de suspense ou engajamento do público. O clímax, que deveria ser uma culminância épica e catártica, é na verdade uma bagunça sem propósito. Há cenas de ação desconexas, tiroteios gratuitos e um uso obsessivo de câmera lenta — como se o filme tentasse, desesperadamente, disfarçar sua falta de substância com estilo. O resultado? Um Snydercut de quinta categoria.
E para completar a tragédia, Nas Terras Perdidas ainda tem a audácia de preparar terreno para uma possível continuação. A sensação que fica é de total desrespeito ao público. Um filme que, claramente, não se preocupa em entregar uma boa história, mas apenas em vender uma ideia vaga de franquia — e que talvez, na cabeça de seus idealizadores, sobreviva graças a nomes conhecidos no pôster. Mas a verdade é que nem mesmo os fãs mais indulgentes encontrarão algo aqui que justifique a experiência. Trata-se de uma obra que falha em absolutamente todos os aspectos: da direção à atuação, da fotografia à narrativa. Um filme que não se contenta em ser ruim — ele quer ser memoravelmente ruim.
Nas Terras Perdidas é, até agora, o pior filme de 2025 — e muito provavelmente permanecerá com esse título até o fim do ano. Uma produção que não apenas desperdiça talentos e uma boa premissa, mas que insulta a inteligência de quem se propõe a assisti-la. De tão equivocado, chega a levantar a suspeita de ser uma grande lavagem de dinheiro — e mesmo assim, poderia ter sido feita com mais esmero.