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    LEGO Batman: O Filme
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    LEGO Batman: O Filme

    O herói solitário

    por Francisco Russo

    No atual cenário de Hollywood, feliz é o estúdio que tem em mãos marcas conhecidas, mesmo aquelas que (ainda) não ganharam versão cinematográfica. Afinal de contas, quem poderia imaginar que os brinquedos de montar da Lego poderiam render uma animação tão divertida quanto Uma Aventura LEGO? A aposta no sarcasmo, aliada à consciência do que os brinquedos representam para a família e em uma certa crítica implícita à busca incessante pela felicidade, foi a fórmula mágica encontrada para que tal marca rendesse tão bem nas telas de cinema. É justamente graças a este sucesso que agora chega seu primeiro spin-off: LEGO Batman.

    Só que este não é, nem de longe, um filme habitual do Homem-Morcego. O Batman visto em cena é o mesmo de Uma Aventura LEGO, absolutamente egocêntrico e arrogante, que agora ganha o posto de personagem principal. Como a história do herói já foi explorada de tantas formas ao longo das décadas, a opção aqui - também para manter o estilo surtado - foi fazer uma espécie de reanálise bem-humorada em cima do personagem, a partir de referências ao que já foi produzido e também a estereótipos bastante conhecidos. Tudo para que o espectador seja capaz de fazer a imediata associação e, é claro, se divertir com ela.

    Desta forma, são dois os ganchos principais da animação: a comemorada solidão do Homem-Morcego, que gosta muito da fama que possui como protetor de Gotham City mas não quer ter qualquer tipo de relacionamento, e justamente sua existência perante o Coringa. Ambas as temáticas se fundem justamente quando o Palhaço do Crime, magoado, ouve de Batman que ele não tem a menor importância, se recusando a nomeá-lo como seu arquinimigo. Durante todo o filme estas vertentes psicológicas caminham juntas, seja a partir do confronto quase constante com o próprio Coringa ou a partir das mudanças que Batman precisa lidar em sua vida cotidiana, seja devido à presença de seu "filho" Dick Grayson ou pela ascensão de Barbara Gordon, a nova comissária de polícia.

    É claro que, diante de tais situações, em vários momentos a arrogância de Batman é apresentada como sendo de uma criança mimada. O tom cavernoso de sua voz - dublada com extrema competência na versão brasileira por Duda Ribeiro -, os inúmeros utensílios e veículos existentes na Batcaverna, o relacionamento com Alfred, a paixonite existente por Barbara... tudo serve de gancho para piadas, muitas vezes envolvendo músicas que o próprio Batman canta ou gosta de ouvir quando está em ação. É como se ele fosse um superstar e, sabendo disto, curtisse um bocado tal situação.

    Tamanha busca pelo reconhecimento também é trabalhada no engenhoso roteiro, escrito pelo quinteto formado por Seth Grahame-Smith, Chris McKenna, Erik Sommers, Jared Stern e John Whittington, assim como uma questão que há muito permeia os quadrinhos, séries e filmes envolvendo o personagem: os vilões de Gotham City existiriam se o Batman não existisse? Boa parte do relacionamento psicológico entre Batman e Coringa vem justamente daí.

    Nesta verdadeira imersão ao universo conhecido do Batman, sobram tiros para todo lado: os filmes já lançados ganham recriações em Lego, há duas cutucadas fortes a Esquadrão Suicida, diversas citações à clássica série de TV dos anos 1960, menção à rivalidade com Superman e até mesmo uma piada meio disfarçada sobre os rumores permanentes acerca do relacionamento gay entre Batman e Robin - ainda mais diante deste Robin! A presença de vários personagens de filmes da Warner Bros, produtora do longa-metragem, dá ainda um charme extra ao longa-metragem, repetindo o que já havia acontecido em Uma Aventura LEGO.

    Apesar de ser menos surtado (e até profundo) que Uma Aventura LEGO, LEGO Batman diverte bastante a partir do habilidoso uso de estereótipos em torno de seu super-herói protagonista. Se aqui a consciência de existir em um universo Lego não é tão explorada, mantendo-se mais na construção a qualquer momento de veículos, o filme também explora a contento a própria estética Lego, especialmente na recriação de personagens e situações típicas dos filmes e HQs. Além disto, apesar de ser mais afeito a quem já conheça melhor a história do Batman, pela capacidade de reconhecer as referências que surgem a todo instante, ainda assim o longa-metragem permite aos leigos que aproveitem bem a jornada deste herói arrogante e solitário que, na marra, aprende algumas lições.

    Atenção às brincadeiras logo no início do longa-metragem, envolvendo as logomarcas das empresas produtoras e Michael Jackson, e ao clipe musical exibido durante os créditos finais, ambos impagáveis.

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