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    Dior e Eu
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Dior e Eu

    Tensão no ateliê

    por Francisco Russo

    Pode-se dizer que o mundo da alta costura vive em um universo a parte, repleto de luxo, elegância e glamour. Seus desfiles sempre contam com celebridades e modelos exibindo roupas que, em certos casos, criam tendências para a moda mundial. Entretanto, por mais que as aparências indiquem um clima de festa constante, nem sempre é assim nos bastidores. É este olhar interno o trunfo do documentário Dior e Eu, que revela as dificuldades e tensões existentes ao longo da elaboração de um badalado desfile de alta costura.

    O alvo em questão é um momento específico: trata-se do primeiro desfile comandado pelo estilista Raf Simons, contratado pela Dior após a polêmica demissão de John Galliano, que desferiu insultos antissemitas em um bar francês. Sem qualquer experiência na alta costura e precisando criar um desfile em apenas oito semanas, Raf enfrenta as dificuldades inerentes não apenas da própria criação em um prazo apertado, mas também da adaptação de seu método de trabalho ao da equipe já estabelecida na Dior (e vice-versa). É aí que surgem os tais problemas, que nem são tantos assim, mas que revelam bastante sobre o funcionamento de uma maison mundialmente conhecida como é a Dior.

    Um dos aspectos mais interessantes retratados no documentário é a necessidade da empresa em dividir esforços na confecção da coleção de roupas do próximo desfile e em cuidar de grandes clientes, que gastam centenas de milhares de dólares por ano e, por causa disto, merecem atenção especialíssima – é o capitalismo moderno também na alta costura! Entretanto, por mais que esta divisão de interesses resulte em um certo conflito, ele soa mais como fogo de palha. O constante clima ameno se esforça em transmitir a sensação de “família” dentro da Dior, que de vez em quando se desentende devido a questões naturais de convívio, mas com todos focados e decididos a fazer o melhor pela empresa.

    Diante desta proposta, em certos momentos Dior e Eu assume uma postura que beira ao de uma campanha publicitária, no sentido de exaltar a empresa e seu criador. O início do documentário, por sinal, é com o próprio Christian Dior narrando a criação de sua maison. O fundador é uma presença constante no longa-metragem, seja através do impacto de seus ideais em valorizar as linhas femininas como uma herança a ser seguida pelos sucessores ou pelo própria importância que teve. Funcionários brincam que ele passeia pelos corredores da empresa, como fantasma, enquanto o próprio Raf sente-se assombrado por seus interesses. Tudo, mais uma vez, sem qualquer tipo de conflito e uma profunda reverência.

    No fim das contas, Dior e Eu é um documentário que chama a atenção por mostrar um pouco do funcionamento interno de uma empresa conceituada como a Dior às vésperas de um desfile. Este, é claro, é o grande ápice do longa-metragem, muito bem iluminado e fotografado de forma a ressaltar ao máximo o cenário escolhido - beleza é a matéria-prima deles, não se esqueça! Entretanto, a reverência exagerada à empresa e seu criador por vezes incomodam, pelo excesso. Por mais que não se aprofunde muito, é interessante.

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