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    Em Pedaços
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Em Pedaços

    Veículo de um tema e para uma atriz brilhar

    por Rodrigo Torres

    A história do mundo mostra que tempos de instabilidade tendem a impulsionar o fascismo. Assim tem sido desde o colapso financeiro de 2008, vem se intensificando com a crise migratória na Europa, e seus efeitos se manifestam em todas as partes do mundo, incluindo Estados Unidos e Brasil. Diante desse cenário, o premiado diretor de origem turca Fatih Akın aborda em seu novo filme não só o crescimento da xenofobia (que é global), como a alarmante nova ascensão do nazismo em seu país, a Alemanha.

    Em Pedaços é veículo desse tema, expondo com amargor o boom da extrema direita no Velho Continente e as formas que o Nacional-Socialismo encontra de se camuflar como uma manifestação de democracia. O filme também critica a limitação da Justiça em oprimir esse modo de opressão — o que ainda instiga, em um contexto mais amplo, uma discussão pertinente sobre a necessidade da intolerância contra os intolerantes, como defendia o filósofo pacifista Karl Popper — e seu lugar como defensora do Estado Democrático de Direito. Mas o longa-metragem vai além do discurso, fazendo uma articulação de linguagem interessante: opera gêneros populares, assim garantindo o engajamento do público em sua mensagem; e realiza um trabalho estético variante e eficiente, combinado à função.

    Em linhas gerais, Em Pedaços é um típico dramalhão com tons de suspense, algo universalmente popular. As cenas iniciais se dedicam a reconstituir um casamento simples, gravado com uma filmadora caseira (alternância de registro que antecipa a de estéticas no filme), e revelar uma família feliz, já estruturada, anos depois, com um filhinho fofo chamado Rocco. A primeira grande manipulação dirigida por Fatih Akın é narrativa, quando um atentado destrói esse lar. Outras tantas serão da imagem a serviço de uma trama redonda, com seus picos de empatia e comoção pelo sofrimento de Katja (Diane Kruger).

    Sua protagonista afunda em uma tristeza agoniante, suja, marcada pelo abuso de drogas e uma fotografia gélida. Quando se ergue e traz consigo o hesitante advogado Danilo (Denis Moschitto), o tom se mantém frígido até Em Pedaços se embrenhar em uma investigação e virar um legítimo filme de tribunal. Ali, a câmera irá explorar a profundidade de campo, em que o personagem que fala é mero coadjuvante de Katja, no centro e em primeiro plano, perdida, aflita. A câmera se ergue e se desalinha para ilustrar o agravamento, a confusão de seu estado psicológico quando pressionada pelo defensor do casal neonazista, propositalmente retratado de maneira odiosa por Johannes Krisch — expressivo, vilanesco. Quando a injustiça se instaura e sua crença no sistema se exaure, Katja se liberta, parte para sua própria vingança e o sol toma conta da projeção, no terço final.

    Nada disso acontece por acaso, mas tampouco toma o espectador de assalto. O barato de Em Pedaços é perceber os processos de Fatih Akın para manipular o público em torno de uma proposta, ou apenas senti-los. Tal como Ken Loach realiza no também recente, autoconsciente e comovente Eu, Daniel Blake. E, apesar de todas as qualidades apontadas, o sucesso do drama francogermânico se deve a outro artista premiado em Cannes. No caso, outra: Diane Kruger, que veicula e transborda com maestria as emoções pensadas pelo cineasta — e, assim, carrega o filme nas costas.

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    Comentários

    • Delcino José Serra dos Santos
      Guantánamo que o diga...
    • Cris
      O problema em ser socialista é em ser mais um para eles exterminarem.
    • Armando Ribeiro
      Mais um filme idiota politicamente correto mostrando como os pobres muculmanos sao tratados nos paises europeus...O feitico virou contra o feiticeiro, e a charles bronson de saia vai a forra... ridiculo...
    • cincerus
      Não sei até que ponto a realidade tem a ver com o enredo do filme, mas, segundo pesquisa recente, mais de 50% dos atentados de cunho terrorista nos Eua são por parte de organizações fascistas ou nazistas.Isso a grande imprensa não divulgou.
    • Sandro Linhares
      Qual o problema em ser socialista?
    • Douglas do Espirito Santo
      Deixa eu ver se entendi,houve um atentado na Europa,mas não foi praticado por um islâmico,mas sim por neo-nazista,e um muçulmano traficante de drogas foi uma das vitimas,é isso mesmo?Então está explicado por venceu um filme que mostrava as atrocidades de um regime comunista dirigido por Joly, Primeiro mataram meu pai no Globo de ouro ,premiação de jornalistas,(99%socialistas).Deve ter sido uma escolha difícil.
    • putriindri490
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