Escolher a música como profissão não é fácil. Você não só tem de enfrentar a percepção que as pessoas normalmente têm, de que música não é um real caminho profissional, como também precisa treinar e estudar muito. Músicos tendem a estudar ao menos oito horas por dia, conhecendo cada nota que seu instrumento musical pode lhes dar, qual o limite dele. E é nesse ponto que Whiplash achou sua história.
O filme acompanha o jovem Andrew (Miles Teller), novato no conservatório Schaffer, que forma os melhores músicos dos EUA, e sua busca pela perfeição na bateria. Essa busca faz com que ele entre para a banda do músico Fletcher (J. K. Simmons), que acredita que bons artistas não se fazem com encorajamentos ou palavras bonitas, mas sim com humilhação e sofrimento.
Parece algo estranho e extremo, principalmente ao ver como Fletcher trata Andrew, mas basta uma pesquisa entre músicos para saber que essa visão de ensino não é tão anormal quanto parece. A busca pela perfeição leva as pessoas a extremos, e isso o filme mostra com maestria. As cenas envolvendo a dupla Fletcher e Andrew trazem uma carga pesadíssima, com o primeiro humilhando o garoto de diversas formas, sejam verbais ou físicas. E Andrew responde tudo à altura, seja discutindo ou treinando até seus dedos sangrarem, literalmente. O filme consegue mostrar perfeitamente que essa busca não é saudável, mas é um caminho trilhado por muitos.
Para dar forma a tudo isso, o filme não economiza em atuação e direção. Aluno e professor são praticamente as únicas personagens que realmente ocupam a tela, e a dupla Miles Teller e J. K. Simmons conseguem segurar a barra perfeitamente. O segundo rouba a cena em diversos momentos, ora como um professor enlouquecido, ora como algo um pouco mais humano e amargurado com a vida. Miles Teller também está estupendo em sua personagem, ainda mais por que o ator sabe realmente tocar bateria, tornando tudo que faz muito mais real. Quando os dois atores estão em tela juntos, é difícil não mergulhar completamente no filme, sentindo o que Andrew sente ao tocar até não conseguir mais mover as mãos, ou se sentindo mínimo perante o ódio proferido por Fletcher.
Na direção, o cuidado com o visual é extremo. As cenas que envolvem a banda tocando são incríveis, detalhadas, com foco em cada instrumento, em cada dedo movendo uma corda ou apertando alguma tecla, e a bateria, dona do filme, recebe todo o cuidado do mundo. Vemos Andrew tocando até seu limite, com seu suor se misturando aos instrumentos e ao sangue em cenas detalhadas, cheias de planos fechados e sempre nos levando ao limite da tensão, imaginando até quando a personagem aguentará tocar.
Além disso, toda a trilha sonora envolvendo o jazz em Whiplash é sensacional. Como faz parte da história do filme, a música recebe um cuidado especial ali, sendo extremamente presente e forte, lembrando-nos que ela também é importante e tornando a experiência de ver o filme nos cinemas em algo muito mais profundo. Não tenha dúvidas de que você acabará o filme com o jazz em sua cabeça.
Whiplash é para além de um filme sobre música ou jazz. É um filme sobre limites. Sobre ao que somos capazes de nos submeter em busca da perfeição, de como somos capazes de aceitar diversas coisas, apenas para poder melhorar. Segundo ele, grandes nomes não são formados com conversas amigáveis, mas sim com dor e revolta. Pode não ser uma mensagem bonita, mas pode muito bem ser real.