Hitler voltou, mas seus ideais sempre estiveram aqui!
Nessa obra baseada em um livro homônimo, a sátira, muito bem montada, é sobre Hitler em pessoa – se é que podemos chamá-lo assim – voltando aos tempos atuais no exato local em que ficava o bunker onde foi dado como morto. Inserindo um homem baixinho com bigode curto, cabelo lambido de lado e uniforme militar da Alemanha na década de 40 interpretando o próprio Führer nos escritórios e nos canais no Youtube do mundo moderno, as comicidades pelo desvio temporal só não poderiam ser maiores do que as críticas que a inusitada figura atrairia e realizaria sendo filmado em uma mescla de cenários montados para o roteiro e de um tom de comentário com entrevistas pelas ruas da atualidade.
Sem ser um desrespeito àqueles perseguidos pelo ditador e por sua nação de partidários lunáticos, “Ele está de volta” apresenta uma narrativa que vai de um crescente e cômico humor negro causado pelos insultos ao Hitler até as reflexões sobre o que os insultos e artimanhas feitas por ele próprio eram, e ainda são, capazes de fazer.
Não só impressionando pela caracterização similar e pela ótima atuação no papel do ditador alemão pelo ator Oliver Masucci, o filme é capaz de te surpreender com um progresso que é insinuado desde o começo da história, levando o ditador ao mesmo ponto a que ele um dia chegou provocando e se aproveitando de revoltas e intolerância doutrinadas – exibindo exatamente o óbvio que aconteceria se Hitler realmente voltasse à vida.
“Você fala como ele”. Em um paralelo com o que aconteceu a Hitler na história, com a apresentação de seu surgimento, sua fama, seu exílio e seu infeliz retorno triunfal, a obra satírica prova, infelizmente, que todos os ideais cegos que causaram o período mais sombrio da história moderna se mantem presentes e simpatizantes escondidos no mundo real, apenas aguardando os discursos, estímulos e a liderança que os façam prosseguir no caminho da ignorância e da indiferença que logo se transforma em protestos, marchas fardadas, saudações fanáticas e violência contra outros serem humanos que são, então, rebaixados desse nível, repetindo a história que jamais deveria se repetir e sequer ter acontecido.
É assustador como a realidade se parece com uma obra de ficção.