Holland chega ao Prime Video carregando expectativas acima da média para um título original de catálogo, especialmente por reunir nomes como Nicole Kidman, Matthew Macfadyen e Gael García Bernal, além de carregar uma história que já circulava há mais de uma década pela indústria. O roteiro assinado por Andrew Sodroski integrou a prestigiada Black List em 2013 — uma seleção anual dos melhores roteiros ainda não produzidos de Hollywood — o que já bastava para colocar o projeto no radar de cinéfilos atentos. Após anos de engavetamento e tentativas frustradas de produção, que chegaram a envolver nomes como Naomi Ackie e Bryan Cranston, a Amazon finalmente tirou o projeto do papel, confiando a direção a Mimi Cave, que havia feito barulho com o elogiado "Fresh". Aqui, ela volta a ocupar a cadeira de direção com uma produção que, no papel, tinha tudo para dar certo.
E por um momento, parece mesmo que dará. O filme inicia de forma intrigante, com uma atmosfera envolvente e promissora, que instiga o público a desvendar o que há por trás da fachada da família Vandergroot. A trama sugere um thriller psicológico ancorado em segredos, aparências e inquietações escondidas sob a superfície de uma vida aparentemente perfeita. Contudo, conforme o enredo avança, o que era um mistério instigante rapidamente se transforma em uma narrativa frouxa, mal amarrada e com um desenvolvimento que decepciona à medida que caminha para a revelação final. O grande problema de Holland está justamente no coração da história: o mistério que o sustenta se esvazia progressivamente, tornando-se um artifício que serve apenas como pano de fundo para focar no desenvolvimento dos personagens Nancy e Dave — sem que esse desenvolvimento, por sua vez, tenha força suficiente para sustentar o filme.
Quando a verdade finalmente vem à tona, o impacto é quase nulo. O que poderia ser uma reviravolta potente se revela um anticlímax, entregue de forma tão fácil e previsível que beira o desrespeito com o próprio público. Há uma sensação clara de frustração por parte do espectador, que se vê embarcando em uma jornada repleta de pistas falsas, apenas para perceber que todas essas pistas eram irrelevantes. O filme cria um clima de tensão que sugere complexidade e profundidade, mas que, no fim das contas, abandona tudo isso para entregar um desfecho que parece ter sido colado de outra história — uma menos inspirada.
Apesar dos tropeços do roteiro, há elementos que merecem destaque. Nicole Kidman mais uma vez demonstra sua habilidade de transformar personagens aparentemente rasos em figuras com alguma densidade emocional. Sua Nancy é o retrato da mulher que vive a ilusão da família perfeita, mas que anseia por algo que a tire do marasmo cotidiano. Kidman segura o filme enquanto pode, com uma atuação sólida que tenta, sem sucesso, compensar as falhas narrativas. A condução de Mimi Cave também demonstra competência: mesmo com um material frágil nas mãos, ela consegue imprimir alguma personalidade ao longa. Isso se deve, em parte, ao ótimo trabalho de fotografia de Pawel Pogorzelski (de “Midsommar” e “Hereditário”), que transforma o visual de "Holland" em algo esteticamente rico, usando as paletas de cores para transmitir sensações e atmosferas distintas ao longo da trama. A trilha sonora de Alex Somers, por sua vez, funciona como um complemento eficaz, adicionando uma camada de inquietação e lirismo ao filme.
Infelizmente, nem a técnica impecável, nem o elenco talentoso, nem a direção segura são capazes de salvar "Holland" de seu maior inimigo: o roteiro. Em um filme que tenta transitar entre o suspense, o drama familiar e até a comédia sutil, a falta de coesão tonal prejudica demais a experiência. A sensação é de estar diante de três filmes diferentes que nunca se fundem de maneira orgânica. A oscilação entre gêneros se mostra artificial, quebrando o envolvimento emocional com as cenas e dificultando qualquer conexão mais profunda com os personagens. O resultado é um filme que, apesar de ter tudo para ser memorável, acaba sendo esquecível.
No fim, "Holland" é mais um exemplo claro de como um roteiro fraco pode minar até as produções mais promissoras. Um elenco talentoso, uma diretora em ascensão e uma equipe técnica competente não conseguem impedir que o filme afunde sob o peso de uma narrativa que começa bem, mas se perde completamente no meio do caminho. Um desperdício de potencial que transforma uma ideia intrigante em um produto frustrantemente medíocre.