Tatuagem definitivamente não é um filme para conservadores, não é um filme para mim, mas não tiro alguns dos seus méritos. Bons atores, bom roteiro, boa fotografia, blá blá blá.
Através de uma ótica da esquerda o diretor Hilton Lacerda aproveita para colocar no hall do deboche a tradição, a família, o autoritarismo, o militarismo e o cristianismo, de uma vez só.
Não tiro o direito dele, mas, deboche por deboche eu também tenho dos meus.
Eu poderia rir sobre o paradoxal impacto questionador e subversivo de um filme supostamente com valores anti-establishment com financiamento estatal (R$ 2.200.000), mas não quero me pautar nisso. Só quero provocar! Desculpe Hilton, você está mais para establishment do que para anti-establishment.
O filme respira modas burguesas da esquerda caviar metida a popular, debulha sobre a política do corpo Foucaultiana (esse pensador tão prestigiado nos meios uspianos), fala sobre a libertação através do sexo, etc.
Toda essa aura "modernete" é representada no "Chão de Estrelas", um grupo de artistas fictício que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez e que, como bem analisou Roger Lerina do Zero Hora, não passa de uma mistura de tropicalismo de Hélio Oiticica, o Teatro Oficina dionisíaco de Zé Celso Martinez Corrêa, a ripongagem dos Novos Baianos, o cinema de guerrilha em Super-8, o despudor crítico do grupo teatral Dzi Croquettes, o filme A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Júnior, enfim, tudo isso.
É uma piração Oswaldiana, carnavalesca, infantil, celebra a negação dos valores, o sexo e a preguiça como chaves para um mundo de felicidade plena, em oposição a toda aquela parafernália civilizacional da tradição, que é fundada no recalque (veja as cenas das velhas, repare no tom de morbidez) e na repressão (nada como utilizar de militares que são homossexuais enrustidos).
Não vou me alongar sobre a infantilidade disso. Estaria mudando o foco. E, por incrível que pareça, não estou nervoso! EU ATÉ DEI NOTA 3 PARA O FILME! Obs: Mania de achar que conservadores estão sempre emburrados.
Mas chamar esse filme de ousado! Sério? Por que mostra pintos? Isso, na verdade, é um baita de um clichê! E desde quando, no cinema, tratar velinhas conservadoras com escárnio é algo novo? 1960? 1970?
Isso é uma baita de uma mimese repetida no cinema há uns 40 anos.
Esse filme seria ousado em outra época, não na nossa!