“Houve uma avalanche, ficamos apavorados, mas tudo ficou bem”.
Sabe quando você repete várias vezes a mesma coisa para se assegurar de que aquilo foi a verdade? A família formada pelo casal Tomas (Johannes Bah Kuhnke) e Ebba (Lisa Loven Kongsli) e seus dois filhos Vera e Harry vai repetir a frase que abre a nossa resenha crítica diversas vezes para que eles mesmos se certifiquem de que ela representa a verdade sobre o que ocorreu com eles.
Em uma viagem de férias numa estação de esqui, a família divide seu tempo entre os passeios pelas diversas trilhas, refeições pelos restaurantes e momentos de descanso no quarto. Tudo acontece na maior normalidade até que a vivência de uma avalanche durante um desses instantes abala as estruturas emocionais desta família.
“Força Maior”, filme dirigido e escrito por Ruben Östlund, aborda justamente as consequências das reações de Tomas e de Ebba, enquanto marido e mulher, enquanto pai e mãe, durante a vivência da avalanche; e como isso os afeta, no relacionamento, e, principalmente, naquilo que eles representam um para o outro e para seus filhos/amigos/relacionamentos próximos.
No caso de Ebba, temos a incredulidade diante da reação do marido. No caso de Tomas, a sua reação simboliza, para ele, uma quebra da sua masculinidade. Tolhido de seu papel como homem da família, provedor e protetor, Tomas só poderá recuperar a sua responsabilidade quando ele mesmo entrar em contato com seus sentimentos e com o ser que ele é.
O título “Força Maior” faz referência a um conceito oriundo do Direito e que está relacionado ao sentido de que a “força maior é aquela a que a fraqueza humana não pode resistir”. Ou seja, diante de um acontecimento extraordinário, ficamos impedidos de cumprir as nossas obrigações. Qualquer semelhança com a situação vivida por Tomas, Ebba e família é mera coincidência.