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    Histórias que Contamos
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    Histórias que Contamos

    Memória relativa

    por Lucas Salgado

    Apesar de ter iniciado sua carreira artística em 1985, com apenas seis anos, a canadense Sarah Polley só ficou conhecida do grande público em 2004, ao estrelar Madrugada dos Mortos, de Zack Snyder. Na época, já ensaiava passar para trás das câmeras, tendo dirigido alguns curtas. Em 2006, veio seu grande trabalho: Longe Dela, drama com Julie Christie que recebeu duas indicações ao Oscar, incluindo uma de Melhor Roteiro para Polley. Ali, ela mostrou que tinha tudo para se tornar uma grande diretora.

    Enquanto consolidava-se no mundo da sétima arte, a atriz e cineasta vivia um período conturbado em sua vida pessoal. E é justamente o que procura abordar em Histórias Que Contamos - Minha Família. O título nacional é bem claro, o filme é sobre a família de Polley. Ao ler sobre o projeto, podem surgir as dúvidas: por que a história dela merece ser contada?

    Na verdade, por mais interessante que seja o caso, nada chama a atenção na história ao ponto de merecer um filme. O grande diferencial da produção acaba sendo a forma em que se constrói a narrativa. Polley cresceu com uma dúvida referente a sua origem. Determinado dia, decide descobrir a verdade. Ao contrário do que possa parecer, o longa também não é sobre a busca de uma verdade, mas sim a forma como se chega a ela.

    A diretora revela uma sensibilidade impressionante, merecendo aplausos também pela coragem em abrir as portas de sua vida para o espectador. Ela ouve boa parte de seus familiares e outras pessoas que passaram pela vida de sua mãe, que faleceu de câncer quando ainda era uma criança.

    Por mais que sejam pessoas de verdade, os entrevistados se revelam personagens incríveis e cativantes. Como o assunto é muito pessoal, a maioria tenta abordar com humor, mas volta e meia acabam caindo em uma situação mais dramática. Stories We Tell conta com momentos emocionantes, sendo recomendado aos mais sensíveis que não esqueçam o lenço antes de assistir.

    Sarah tenta não interagir muito com os entrevistados, mas nunca deixa de responder algo quando perguntada. Ao mesmo tempo em que escuta todos os irmãos, ela registra a narração em estúdio de seu pai, um escritor que produziu um texto dirigido a filha sobre o assunto.

    Belo, interessante e delicado, Histórias Que Contamos é um documentário raro, cujo assunto não pode interessar a todos, mas é contado de uma forma que cativa. Trata-se de um estudo sobre a memória de um núcleo familiar e por isso cai como uma luva o momento em que citam Pablo Neruda: "É tão curto o amor, tão longo o esquecimento."

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