Minha conta
    A Novela das 8
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    A Novela das 8

    Passatempo brasileiro

    por Francisco Russo

    Não é de hoje que o brasileiro em geral tem uma relação especial com as novelas. Seja por gostar do formato ou por servir como válvula de escape para as mazelas do dia a dia, milhões de pessoas país afora acompanham ao menos um dos vários exemplares exibidos diariamente na TV aberta. Esta presença era ainda mais impactante décadas atrás, quando não havia internet e a ditadura militar impedia o acesso a temas mais amplos e polêmicos, o que fazia com que a própria novela se tornasse um meio de alienação. Este é um dos temas abordados por A Novela das 8, longa-metragem de estreia do diretor Odilon Rocha. Pela coragem em abordá-lo o filme de imediato desperta a atenção. O problema é que, em meio a uma trama tão novelesca quanto seu tema principal, ele é diluído em meio a assuntos bem menos importantes.

    A trama segue a velha fórmula de vários personagens cuja história, de alguma forma, se entrelaça. O ano é 1978, época em que Dancin Days sacudiu o país e criou moda. Amanda (Vanessa Giacomo) é uma das fãs ardorosas da novela, mas nem sempre pode assisti-la devido aos clientes que recebe. Ela é prostituta e tem Dora (Claudia Ohana) como empregada. De semblante carregado e com pouquíssima maquiagem, Ohana surpreende pelo contraponto às suas personagens mais famosas, sempre cheias de vida. É através dela que a realidade brasileira, em plena repressão militar, bate à porta.

    Um dos principais problemas de A Novela das 8 é que o contraste entre a alienação causada pela novela e a repressão diária existente no país é explorada de forma bem superficial e caricata. Alexandre Nero é o maior exemplo disto, encarnando um personagem capaz de passar por cima de todo e qualquer direito individual em nome do suposto bem da nação. Um papel com uma única nuance, a agressividade, tão estereotipado quanto Caio, o jovem interpretado por Paulo Lontra. Gay não-assumido, ele é perseguido pelos colegas de escola e ainda precisa lidar com o avô linha dura. Trata-se de um personagem idêntico a tantos outros, formatado para que o público possa rapidamente identificá-lo sem grandes dificuldades. Ou seja, seguindo a mesma fórmula usada nas próprias novelas, o que por si só faz com que a crítica a elas seja diluída.

    Outro grave problema do filme é em relação ao lado técnico. Há enquadramentos fora de foco, uma sequência de agressão estrelada por Alexandre Nero onde a agressão em si não é exibida – os personagens simplesmente estão de costas para a câmera, por incapacidade técnica mesmo – e uma inacreditável cena onde a peruca usada por Vanessa Giácomo está mal colocada, deixando boa parte da testa da atriz à vista. Questões que trazem um forte ar de amadorismo ao filme como um todo.

    A Novela das 8 é um filme mal dirigido que, apesar de abordar temas interessantes, não soube trabalhá-los de forma que possam prender a atenção do espectador. De positivo há apenas o bom trabalho de Cláudia Ohana, que não sustenta a enorme quantidade de personagens simplórios e unidimensionais que não conseguem passar nem o grau de importância das novelas para o brasileiro nem algo além do trivial sobre a perseguição promovida pela ditadura militar brasileira. Fica na superfície, sem coragem de ir mais fundo em qualquer dos lados. Uma pena, pois o tema trabalhado permitia isto.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    • vania
      Novela horrível! O autor pensa que os problemas resolvem matando as pessoas que não são mais úteis. Se o mundo fosse realmente assim.... como estaríamos?
    Back to Top