Filmes biográficos devem ser vistos. Ninguém vai querer contar a história de alguém que levou uma vida sem graça. E todos nós precisamos de uma chacoalhada, um baque para mudar, nem que seja por duas horinhas, uma vida que não estamos curtindo tanto assim. Jobs mostra a vida do grande gênio criador do iPod e afins e nos traz exatamente isso: uma avalanche de inspiração vinda de um homem diferente, especial.
Você ter a oportunidade ver alguém tão espetacular como Steve Jobs e poder tirar exemplos de como agir e como não agir é algo bastante inspirador. Evoca a máxima que somos todos humanos mortais, que cometemos erros e acertos. Falar que o cara era criativo, visionário e blábláblá é chover no molhado. O que se destaca de positivo nele é a capacidade de motivar e inspirar os que estão ao seu redor. De fazer acreditar que é possível, sim, mesmo quando a maioria diga que é loucura. Todos nós precisamos de exemplos assim nas nossas vidas. E ainda vi críticas dizendo que o filme era legal apenas para divertir e mais nada, pois trazem um Jobs muito superficial. Os gritos que ele dá com seus amigos e subordinados, a forma como ele descarta as pessoas em prol do desenvolvimento da empresa nos mostra um lado dele que ninguém deve seguir.
O filme mostra uma determinada fase da carreira do criador da Apple, indo desde sua época na universidade até o lançamento do tocador de músicas mais famoso da história. Um começo lindo, onde Jobs fala sobre tocar o coração das pessoas com a música e a capacidade de carregar com seu novo dispositivo milhares de canções no bolso. Pareceu algo dito especialmente para mim. Como grande amante de música, sempre falei que nestes meus 30 anos de vida, sem sombra de dúvida o meu iPod é o meu bem material mais importante. E sempre será. Já valeu o ingresso. Porém todo o resto do filme também valeu o ingresso. Foram pouco mais de duas horas que passaram como 20 minutos deixando aquele gostinho de “mas já acabou? Quero mais!”. Ele tem um jeitão de filme antigo, muito motivado pelo figurino característico dos anos 70, bem como os cabelos estilosos e os computadores que mais pareciam os cofres onde vovó guardava dinheiro e joias. Tem a fotografia maravilhosa das viagens de drogas de Jobs, sua namorada e seu melhor futuro ex-amigo Daniel nos campos de trigo, ao som de clássicos do rock como House Of The Rising Sun e Boots Of Spanish Leather. Tem a disputa Beatles e Dylan (e não Stones!). Tem todas as referências nerds que para quem curte (como eu) deixará o filme mais interessante ainda. E tem a atuação de Ashton Kutcher, que realmente se preparou para entrar no personagem. A primeira cena do filme te deixa com uma dúvida imensa se é uma filmagem real de Jobs ou não. Só quando você escuta a voz de Walden (não é apenas o filme que utiliza referências nerds) você percebe se tratar de Kutcher. Aliás, nem mesmo a voz característica dele (para quem acompanha as novas temporadas de Two and a Half Men, já virou característica, temos que admitir) nos impede de confundir o ator com o verdadeiro Steve de vez em quando. Está tudo lá muito bem representado: o cabelo de lado, o olhar penetrante, a confiança avassaladora, o andar curvado. Temos que deixar de preconceito e começar a aceitar que atores novos podem sim fazer grandes trabalhos e deixar de glorificar apenas os mesmos velhos atores de sempre. Parabéns ao ex-marido da Demi Moore. Realmente fiquei mais fã do seu trabalho agora.
No fim fica a lição, dado pelo próprio Jobs, que você pode chegar sim onde você quiser sem se submeter às imposições do status quo, usando sandália, sendo diferente. E, pedindo licença ao próprio, digo que não é apenas a música que toca o coração das pessoas. Grandes filmes como esse também o fazem e muito bem.