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    Furiosa: Uma Saga Mad Max
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Furiosa: Uma Saga Mad Max

    Testemunhem! A raiva silenciosa de Anya Taylor-Joy e a adição ideal ao mundo de Mad Max: Estrada da Fúria

    por Aline Pereira

    “O ódio é uma das grandes forças da natureza”, nos diz a passagem de Furiosa: Uma Saga Mad Max que melhor define o espírito da história estrelada por Anya Taylor-Joy. Com poucas palavras e expressões implacáveis, o diretor George Miller nos aproxima de uma protagonista que também é uma entidade em uma grande história que, já com o perdão de abusar da referência à natureza, expande as raízes de seu próprio universo com a extravagância de um blockbuster que deve se tornar referência no gênero.

    Quase uma década após o lançamento do excepcional Mad Max: Estrada da Fúria, a saga de ação trouxe de volta a personagem que, vamos combinar, já era a grande estrela do filme de 2015. Em Furiosa, retornamos às origens da heroína interpretada por Charlize Theron: agora com a atriz de O Gambito da Rainha na liderança, o longa nos mostra a sequência de acontecimentos ferozes que levaram Furiosa até mais ou menos o estado em que a encontramos em Estrada da Fúria.

    Quero começar com um ponto que pode ser divisivo e que me chamou atenção logo de cara: antes de Anya Taylor-Joy aparecer em tela, temos um tempo razoável para acompanhá-la ainda na infância e o filme não parece querer economizar neste desenvolvimento. Ao sair da sessão, notei alguns comentários incomodados com esta demora, mas penso que este “aquecimento” é fundamental para nos levar ao sentimento central que move Furiosa em sua história: uma revolta silenciosa.

    Warner Bros. Pictures

    Dor, injustiça e vingança são o coração de Furiosa

    As primeiras cenas do filme nos mostram que, ainda criança, Furiosa foi vítima de uma virada trágica e violenta que a deixou nas mãos de Dementus (Chris Hemsworth), principal antagonista da trama, que toma posse dela como um objeto, uma espécie de troféu. Não demora muito para que Immortan Joe (Lachy Hulme) também surja em cena com a personalidade temível que já conhecíamos - e a presença destes homens é a materialização da violência.

    Muito antes de chegar à fase jovem, Furiosa já tinha passado por todo tipo de sofrimento. Calada e sem saída. Ao dedicar tempo para nos colocar nesse clima, o longa dá o combustível necessário para a explosão que virá depois. Toda a brutalidade com que a protagonista age – em um bom trabalho físico e dramático de Anya Taylor-Joy – é combinação óbvia da infância traumática, da exposição ininterrupta à perversidade humana e à escassez do mundo em que vive.

    Em entrevista ao New York Times durante a divulgação do filme, a atriz falou sobre sua insistência em deixar clara em sua personagem a ideia da “female rage” (a raiva, explosão feminina). Conseguiu. Em especial porque me deixou com uma sensação profunda de que o ímpeto de Furiosa não era só dela, mas das mulheres que vieram antes – da mãe, das conterrâneas, das esposas Immortan Joe.

    Furiosa explora o que há de melhor no universo Mad Max

    Para além da protagonista, é ótimo o papel vivo que o universo da saga desempenha e mais do que isso, talvez, como a direção e o roteiro de George Miller não se esquecem em momento algum deste co-protagonismo. O deserto e o mundo pós-apocalíptico passam longe de ser apenas plano de fundo e há uma simbiose entre humanos e máquinas – são vários os momentos em que esta relação é explorada, mas me vem à mente, por exemplo, Furiosa sem um dos braços em seu carro sem uma das rodas.

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    Com a participação ativa do universo de Mad Max vem também um dos grandes trunfos do filme: uma ótima expansão de sua própria mitologia. Grande parte da experiência positiva com o longa tem a ver com a imersão nos elementos que já haviam sido apresentados antes, agora com mais tempo. Temos, por exemplo, uma entrada com mais detalhes na Cidadela de Immortan Joe e seus garotos de guerra, além de uma sequência fácil de entender e curtir no que diz respeito aos confrontos políticos, territoriais e o valor dos recursos disponíveis.

    O apreço pela mitologia da saga vem ainda no visual: há algo de nostálgico na montagem e na escolha do estilo do filme de 2024. Algumas transições entre uma cena e outra me trouxeram uma lembrança de produções da década de 1980. Mais do que isso, talvez, um senso de familiaridade dentro da saga: Furiosa tem a identidade de Mad Max e a assinatura de George Miller. Neste tópico, vale ainda ressaltar que a divisão em capítulos é certeira para nos dar a sensação do que é a história de Furiosa: uma verdadeira odisseia.

    O vilão de Chris Hemsworth é… esquisito

    Não sei se é o hábito de ver Chris Hemsworth como (super) herói de ação, mas é difícil vê-lo com tanta “seriedade”, se é que esta é a palavra. Não digo isso em termos dramáticos, mas em um alinhamento com o tom geral do filme. É interessante a quebra bem-humorada e caricata que Dementus nos traz de vez em quando – uma característica aparentemente inevitável do ator australiano –, mas o tipo de ameaça que ele representa me causou um certo estranhamento.

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    Dementus é chefe da gangue que tira Furiosa de sua comunidade e representa o que há de mais perigosamente patético em uma liderança autoritária, mas a sensação é de que é difícil medir seu potencial, de onde vem o poder que adquiriu – talvez seja justamente essa a intenção? A dinâmica que o filme estabelece entre Dementus e Immortan Joe é o que mais traz estas respostas e “posiciona” o personagem de Chris Hemsworth no cenário de Mad Max, mas há excessos que não parecem ter tanto mais a dizer do que o que já estava posto antes.

    Furiosa é melhor do que Estrada da Fúria?

    Tudo bem, talvez não seja ideal, mas não dá para evitar a comparação entre o filme de 2015 e o de 2024 – a conexão entre eles é profunda, direta e valiosa. Com uma protagonista tão arrebatadora e, como destaquei antes, uma expansão tão interessante no universo, Furiosa me deixou mais entretida do que Mad Max: Estrada da Fúria.

    Ainda assim não cabe colocá-los em um ranking porque a sensação é de que as qualidades que o filme de 2024 têm vieram do que foi feito antes. O que vimos agora é um fruto (muito saboroso) da obra antecessora e que agrada aqui já tinha agradado antes. Só esperei tanto por Furiosa por ter gostado tanto de vê-la no filme de 2015. Bem, a espera valeu a pena e o resultado deixa grandes expectativas para testemunhar o futuro.

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