Não sou crítico de cinema, me propondo apenas a comentar os filmes que vejo. Prefiro sempre falar dos filmes que gostei ao invés de falar dos que não gostei, e também recomendar filmes não muito comentados mas que são bons, verdadeiras descobertas. O Impossível está tendo uma grande divulgação no Brasil, onde até antecedeu seu lançamento nos Estados Unidos (que é o principal mercado internacional de cinema, of course). O filme é na verdade uma produção espanhola, dirigido pelo mesmo Bayona do excelente thriller de suspense O Orfanato (que dá de 10 em qualquer similar americano dos últimos anos). Pois o filme teve uma recepção por parte da crítica internacional - incluindo a brasileira - totalmente polarizada. Enquanto alguns o receberam calorosamente, exaltando suas virtudes de um filme que celebra a perseverança do espírito humano em situações-limite, outros o receberam friamente, acusando-o de superficial, apelativo e inclusive de tentar faturar em cima de uma terrível tragédia que atingiu milhares de pessoas.
Imagino, portanto, que não sendo nenhum spoiler, como se diz hoje, todos saibam que o filme trata do tsunami que atingiu a Tailândia e outros países vizinhos em 2004. Ao contrário do que se possa imaginar ao saber do filme, ele está longe de ser um típico cine-catástrofe ao estilo de Hollywood, porque a proposta aqui foi centrar-se em acompanhar a história real de uma família envolvida na tragédia. Diante disso, estamos diante daquela velha questão de enxergar o copo meio-vazio ou meio-cheio. Vou me colocar ao lado dos que viram O Impossível como um copo meio-cheio. Não acho relevante o fato de haverem alterado a nacionalidade da família, de mexicana para americana - uma das críticas recebidas - visto que o filme tinha pretensões internacionais, tendo por isso escalado para os papéis principais 2 famosos atores de Hollywood: Naomi Watts e Ewan McGregor. E diga-se de passagem não haveria melhor escolha visto que os 2 costumam sempre, e não foi diferente neste filme, se entregarem totalmente à interpretação, de forma apaixonada (é só conferir o desempenho de McGregor em Moulin Rouge ou O Golpista do Ano - I Love You Philip Morris e de Watts em Cidade dos Sonhos - Mulholland Drive - ou 21 Gramas). A surpresa, nesse aspecto, vem da interpretação do jovem ator estreante Tom Holland, no papel de Lucas, o filho mais velho do casal, que é merecedor de todos os elogios e prêmios que vem recebendo graças ao filme.
O tsunami de 2004 é ainda bem recente, e praticamente todo o planeta acompanhou as cenas pelos noticiários de TV. Por isso, é realmente um trabalho técnico fenomenal a recriação através de efeitos visuais, que resulta em imagens desconfortavelmente realistas e impactantes. Mas este não é o foco do filme, que seria assim superficial e sensacionalista como alguns o acusam, porque na verdade o interesse humano dos efeitos da tragédia é na verdade o tom do filme. Também não senti que a trajetória da família para sobreviver caia em algum momento no caricato, piegas ou dramalhão meloso.
O copo meio-vazio tem mais a ver com um sentimento que falta nos envolvermos mais com as personagens principais (que são na verdade reais), a ponto de digamos, torcer por elas, sofrer com elas, e vibrar por elas. Há também uma simples sucessão de fatos que parecem seguir uma lógica previsível e, portanto, sem a emoção da descoberta, aos olhos do espectador que acompanha o filme. No cinema, muitas vezes, o impacto maior vem do que não é mostrado, do que não é previamente conhecido. O espaço para alguma surpresa, na minha opinião, poderia vir da opção pelo roteirista em acompanhar após o tsunami a trajetória não de todos os envolvidos da família, mas apenas em Lucas e a mãe, deixando somente para o final revelar ao espectador o que sucedeu aos demais, resultando num final mais emocionante. Este é com certeza o demérito principal do filme: o seu roteiro, que teve - para o bem ou para o mal - a colaboração da Maria (personagem de Naomi Wats) da vida real.
Talvez para completar a metade vazia do copo, O Impossível seja o caso de um filme que precisa ser preenchido com a experiência de vida de cada um que o assista, sua percepção da história e do filme e seu estado de espírito no momento de assisti-lo.