Sequência de Batman Begins. O Título nos faz lembrar de um dos maiores quadrinistas do mundo: Frank Miller. O próprio diretor do filme admitiu influência da obra-prima homônima: O Cavaleiro das Trevas, o co-roteirista, irmão de Christopher Nolan, Jonathan Nolan, disse chegar a transpor frases da graphic novel. Contudo, Batman foi ofuscado pelo vilão de Heath Ledger,
sua primeira aparição no filme já sugere algo que vai surpreender durante todo o filme, o coringa tira a cômica e melancólica máscara de assalto e diz: "o que não nos mata nos torna mais estranho". No primeiro ato, planeja um assalto, contrata os bandidos, participa do roubo, fazem alguns se matarem e mata diretamente o restante, nesse momento, fazemos a figura de um mercenário brilhante, temos quase certeza disso, quando ele próprio se apresenta para a máfia da qual roubou o dinheiro e tenta arrancar mais grana da mesma, propondo seus serviços para matar o Batman, cobrando a metade do que sobrou do lucro (ou será do que roubou?). Quando a negociação sai do controle o Coringa ameaça os mafiosos pondo a própria vida em risco, no estilo homem-bomba, prevenindo a todos: "nada de explosões de raiva". E assim se dá no decorrer do filme, se revelando com requintes de cinismo, sarcasmo e ironia. Se a princípio o Coringa pretendia matar o Morcego, no decorrer ele se limita a tirar-lhe as asas. Batman e Coringa são vítimas da sociedade que tomaram rumos diferentes, e nesse momento perguntamos o que aconteceu realmente com o palhaço, pois o próprio parece brincar com sua desgraça, dizendo ter sido o pai que lhe cortou os lábios, e numa outra ocasião, ter se automutilado num surto diante da esposa desfigurada. Vale a pena comparar com a situação em que Batman se coloca no primeiro filme, numa espécie de autoflagelação, passando fome e vivendo nas mazelas da prisão. Coringa não tem parentes, amigos ou família, não tem nada a perder, talvez por isso ele tenha feito Batman sofrer algumas perdas, a amada e o amigo Harvey Dent. Os dilemas do coringa são uma metáfora do seu passado misterioso, ele coloca Batman em situações que faz o herói querer matar, Coringa faz o Batman sentir a dor da perda. Seu maior de desafio nesse filme é a questão moral, que lhe abala a estrutura psicológica. Talvez a atração que sentimos pelo vilão seja na maestria em dissecar as pessoas numa espécie de sessão terapêutica pessimista. O ódio do Batman e a conveniência sádica do Coringa são o ponto alto do longa. Batman não quer ter na consciência o rótulo de assassino, mas chega a praticar o mal necessário, transcendendo os limites da ética ao usar uma tecnologia de espionagem que viola a privacidade das pessoas. Coringa não tem medo de morrer, sua vida não lhe interessa, mas sim as escolhas que as pessoas ao seu redor fazem num momento de caos, e como elas reagem à mesma situação. O Promotor Harvey Dent teve a face queimada, mas sua deformação fisiológica e mesmo sua dor física, são irrelevantes comparadas à dor da perda. Os três personagens centrais tem mais em comum do que se parece.
Ainda assim vemos o Morcego contornando a inevitabilidade, a imprevisibilidade, e o situacionismo de escolha. Batman, não é um herói com poderes sobrenaturais, mas um homem que resolveu usar todos os recursos para impedir que as pessoas sofram, nem que por isso ele tenha que contradizer sua simbologia heroica.