"Coisa mais bonita é você, assim, justinho você, eu juro, eu não sei por que, você". A música de Carlos Lyra e a letra do poetinha Vinícius de Moraes (que gostava de chamar a todos no diminutivo, como é mostrado no filme) deu o título do documentário sobre o movimento musical mais fértil da história da MPB: a bossa nova. O samba encontrou os estudantes da classe média universitária carioca. Resultado: letras inteligentes, que fugiam das velhas dores de cotovelo e amores perdidos e um fraseado característico ao violão. Roberto Menescal e Carlos Lyra foram entrevistados e foram as vigas mestras deste documentário. Eles contam vários "causos", além de tocar e cantar várias músicas da bossa nova. O espectador fica sabendo que a música "O Barquinho", foi composta quando a embarcação em que a turminha da zona sul carioca enguiçou no meio do oceano atlântico. Algumas imagens resgatadas por Paulo Thiago e sua equipe são sublimes. Exemplo: Tom Jobim, o maior nome do movimento, ao piano e o igualmente grande Gerry Mulligan, saxofonista norte-americano, ensaiando no apartamento do último, em Nova Iorque. Gente talentosa que ainda está aí na praça, viva e forte, como o ótimo pianista Johnny Alf, a cantora Joyce, João Donato, Astrud Gilberto, entre outros, são entrevistados e dão uma palhinha. Também a visão da crítica é mostrada através de entrevistas com Artur da Távola, Tarik de Souza, Sergio Cabral e Nelson Motta (talvez o maior admirador do trabalho de João Gilberto na face da terra). Há alguns anos o jornalista Ruy Castro nos ofertou um livro denso sobre a bossa nova. Mas, sem dúvida, esta é a primeira incursão do cinema sobre o tema. Eu gostaria de ter vivido naquela época. Imagine você, caro leitor, entrar num bar e ver ao piano em meados dos anos 50 e ouvir Tom Jobim ao piano. Ou quem sabe, atravessar a rua, entrar num hotel e ouvir o Tamba Trio. Ou mesmo ir a um show na Faculdade de Arquitetura e ver todas as feras juntas? Sinto saudades de uma época em que não vivi, mas que certamente é melhor do que a vivemos nestes anos de PT no poder político e do narcotráfico com o poder policial. Ao contrário do que reza a letra: NÃO CHEGA DE SAUDADES.