A Meia-Irmã Feia
Média
3,6
16 notas

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NerdCall
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41 seguidores 396 críticas Seguir usuário

3,5
Enviada em 21 de outubro de 2025
A Meia-Irmã Feia chegou aos holofotes após sua estreia no Festival de Sundance, e rapidamente se consolidou como um dos grandes destaques do evento — e, para muitos, um dos melhores filmes de terror do ano. A diretora e roteirista Emilie Blichfeldt revisita o clássico conto da Cinderela, mas troca a magia do castelo pela carne exposta da imperfeição. Seu olhar não se volta para a princesa, mas para quem sempre ficou à sombra dela: a meia-irmã. A partir dessa perspectiva, o filme mergulha em um conto de fadas distorcido, onde a beleza é sinônimo de poder e o corpo se torna campo de batalha.

O grande mérito de Blichfeldt está em construir uma história familiar e, ao mesmo tempo, totalmente inédita. A estrutura é reconhecível — o reino, o príncipe, o baile —, mas tudo é filtrado por um tom sombrio e ácido, sustentado por uma direção que mistura horror físico e humor cruel. A diretora não se contenta em apenas inverter o ponto de vista; ela desmonta o mito da Cinderela, expondo o quanto essa busca pela perfeição estética pode se tornar uma prisão — especialmente em um mundo onde aparência significa sobrevivência.

A protagonista Elvira, interpretada por Lea Myren, é uma jovem constantemente ridicularizada pela mãe e pela sociedade por não se encaixar no padrão de beleza. O nariz torto, o aparelho nos dentes e o corpo fora do ideal fazem dela um alvo fácil, mas também uma figura de empatia imediata. Blichfeldt constrói essa identificação com cuidado — o público torce por Elvira, sente sua dor e entende suas frustrações — até que essa compaixão é usada contra nós. Conforme a personagem mergulha em sua própria obsessão, a empatia dá lugar ao desconforto. A jornada de vulnerabilidade para arrogância acontece de forma gradual e dolorosa, tornando inevitável a lembrança de “A Substância”, de Coralie Fargeat, pela forma como o corpo se transforma em metáfora e em instrumento de horror.

O longa acompanha a tentativa desesperada de Elvira e de sua família de ascender socialmente após a morte do pai de Cinderela. Sem dinheiro, a mãe vê na aparência da filha uma chance de salvação. Daí nasce uma corrida doentia pela beleza, repleta de procedimentos e transformações grotescas — uma ironia cruel em uma época em que cirurgias estéticas nem sequer existiam. O body horror aqui não é gratuito: cada cena de deformação, cada ferida aberta, funciona como uma crítica direta à cultura da aparência e à ideia de que ser bonita é o mesmo que ser aceita.

Blichfeldt conduz essas cenas com coragem. Não há suavização, nem conforto. A câmera se aproxima do que queremos evitar olhar, e o resultado é uma experiência de repulsa genuína — mas também de riso nervoso. A comédia surge de maneira ácida, quase involuntária, como se o grotesco e o ridículo andassem de mãos dadas. Há uma estranha diversão em ver até onde Elvira irá por reconhecimento. O filme é cruel, mas também fascinante, porque reflete com clareza um espelho da própria sociedade contemporânea: obcecada por filtros, procedimentos e validação.

O que mais impressiona é como a diretora constrói essa crítica sem precisar abandonar o universo dos contos de fadas. Ela incorpora elementos simbólicos — o sapato, a abóbora, o baile — de forma sutil e criativa, sempre distorcendo o que é conhecido. A icônica cena do sapato, por exemplo, ganha aqui um significado grotesco e perturbador, tornando-se uma das passagens mais angustiantes do longa. O mesmo vale para o simbolismo da metamorfose: a transformação de Elvira não é mágica, é física, dolorosa e cheia de sangue.

Visualmente, A Meia-Irmã Feia é um espetáculo de desconforto e beleza. A fotografia, com tons sombrios e iluminação barroca, reforça o contraste entre a pureza dos contos de fadas e a podridão escondida por trás deles. Os figurinos seguem essa mesma linha: exuberantes, ornamentados, mas sempre à beira do grotesco. Tudo parece belo até o momento em que se aproxima demais. Blichfeldt recria o período com autenticidade, mas usa o cenário apenas como pano de fundo para uma história universal sobre desejo, inveja e identidade.

Outro ponto alto é o uso impecável de efeitos práticos e maquiagem. Em tempos em que o CGI domina o cinema de horror, é refrescante ver uma produção que aposta em recursos tangíveis, capazes de causar incômodo real. As transformações de Elvira são encenadas com um realismo que provoca náusea e fascínio. Em certos momentos, o espectador se vê dividido entre o impulso de desviar o olhar e o desejo mórbido de continuar assistindo.

Blichfeldt demonstra uma maturidade impressionante para uma diretora estreante. Seu roteiro conduz o espectador por uma montanha-russa emocional: começamos simpatizando com a personagem, depois a rejeitamos, e por fim, somos deixados em um estado de desconforto absoluto. Essa alternância é o que torna o filme tão envolvente. A diretora brinca com as expectativas do público e, de certa forma, com a própria moral dos contos de fadas. Afinal, quem é a verdadeira vilã? A meia-irmã, a mãe, a sociedade — ou a ideia de que a beleza é o único caminho para o amor?

Mesmo quando flerta com o exagero, o longa nunca perde o controle. Tudo está a serviço da mensagem central: o preço da beleza é o próprio corpo. A sequência final, por exemplo, é um choque. Não apenas pelo horror explícito, mas pelo que representa — a total dissolução da humanidade de Elvira em troca de um ideal impossível. É o ponto de não retorno, o instante em que o conto de fadas se desfaz por completo.

A Meia-Irmã Feia não é um filme sobre sustos, mas sobre desconforto. É uma história que provoca, questiona e, acima de tudo, gruda na mente. Quando os créditos sobem, a sensação é de exaustão e fascínio. O público sai do cinema com imagens difíceis de apagar — e talvez com uma nova consciência sobre o quanto de dor pode existir por trás da beleza.

Em resumo, Emilie Blichfeldt entrega um dos filmes de terror mais originais e inquietantes do ano. Seu olhar transforma o mito da Cinderela em um estudo visceral sobre aparência, desejo e autodestruição. O resultado é um conto de fadas grotesco, belo e repulsivo, que mostra que o horror mais assustador talvez não esteja nos monstros — mas no espelho.
Franciele M.
Franciele M.

7 seguidores 6 críticas Seguir usuário

4,0
Enviada em 27 de setembro de 2025
Muito bom! O filme aborda a história de uma forma bem interessante. e os figurinos são muito bonitos...
Yuri Lourenço de Lima
Yuri Lourenço de Lima

5 seguidores 40 críticas Seguir usuário

5,0
Enviada em 25 de julho de 2025
O melhor filme de terror de 2025 (até agora). Suspense no talo, tosco, nojento pra caralho, perturbador, e muito divertido! Que surpresa!
Cleibsom Carlos
Cleibsom Carlos

16 seguidores 207 críticas Seguir usuário

2,5
Enviada em 10 de outubro de 2025
Filme estranhíssimo! Na ânsia de "subverter" conceitos como misoginia, machismo, a exigência de beleza e recatamento para as mulheres, etc, ele acaba reforçando esses mesmos conceitos. Como a ironia não fica clara, ou talvez tenha ficado clara demais dados os exageros do filme no tratamento reservado às personagens femininas, A MEIA--IRMÃ FEIA não se difere em nada dos filmes antigos que falavam disso à sério e que retratavam as mulheres de maneira subalterna e nas situações mais humilhantes porque acreditavam de fato nisso. Nunca a infeliz frase de Vinícius de Moraes "as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental", e complemento triste e escrotamente que essa beleza na cabeça de quase toda a humanidade é fundamental somente para as mulheres, fez tanto sentido quanto após eu assistir a esse filme...
Anelise
Anelise

1 crítica Seguir usuário

3,0
Enviada em 8 de setembro de 2025
Faltou falar que na descrição do filme, a misoginia, o machismo, a pornografia e a pedofilia são constantes no mesmo.
É o tipo do filme que eu não assistiria novamente.
Assisti na casa de uma amiga por IPTV
Prizza Levi
Prizza Levi

1 crítica Seguir usuário

5,0
Enviada em 29 de agosto de 2025
Irei assistir ao filme em outubro, nos cinemas brasileiros. Estudo Psicologia e estou muito ansioso para assistir, pois ele aborda um pouco sobre esse tema. Assim que eu assistir, volto para editar a minha avaliação.
Lane
Lane

1 crítica Seguir usuário

5,0
Enviada em 12 de setembro de 2025
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WagnerSantos
WagnerSantos

4 seguidores 86 críticas Seguir usuário

4,0
Enviada em 16 de novembro de 2025
Com uma boa direção, fotografia , maquiagem e boas atuações, o lado perverso dos contos de fadas consegue dar calafrios e deixar o espectador bastante desconfortável.
jessica moreira
jessica moreira

1 crítica Seguir usuário

4,5
Enviada em 28 de novembro de 2025
Uma releitura incrível, a história dessa vez acompanha principalmente a irmã vilã, que assim se tornou devido a pressão psicológica para ser Bela. O filme aborda os padrões impostos pela sociedade para que as mulheres sejam perfeitas, é dramático e sombrio. Achei que ele surpreende e mantém um pouco do clássico tão amado com o tão aclamado final feliz, disputa de bem contra o mal e a paixão despertada no príncipe, que hoje é tão rejeitada, porém no fim é o que a maioria gosta, sim!
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