Marcelo Caetano demonstra sua sensibilidade em retratar as nuances da vida contemporânea brasileira em Baby. O roteiro, escrito com precisão e sutileza, mergulha profundamente na realidade de muitos jovens em busca de identidade, pertencimento e autonomia. A narrativa é genuína e comovente, explorando dilemas universais, mas com um olhar afiado sobre questões locais, como o impacto do ambiente urbano e da sexualidade no desenvolvimento individual.
O elenco, escolhido com maestria, brilha em cada cena. Os atores apresentam performances naturais e envolventes, criando uma química que sustenta a trama de forma autêntica. É evidente que a direção trabalhou para criar um espaço seguro para que cada ator explorasse seu papel com liberdade e verdade, o que eleva o impacto emocional do filme.
No entanto, um aspecto que poderia ser melhor desenvolvido é a forma como o cenário do centro de São Paulo é retratado. Embora a intenção de mostrar uma face decadente da cidade seja válida e contextualize parte da narrativa, a ausência de um equilíbrio na representação pode reforçar estereótipos. A ambientação apresenta um panorama quase exclusivamente sombrio, que acaba por generalizar a experiência da população LGBTQIA+ como intrinsecamente ligada à marginalização e ao abandono social.
Baby é um filme necessário e impactante, mas que se beneficiaria de uma visão mais plural do universo que aborda. Ainda assim, Marcelo Caetano consolida sua posição como um dos grandes cronistas das vidas periféricas e urbanas no Brasil, oferecendo ao público um retrato que, apesar das falhas, é poderoso e indispensável.