Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Irmã

Metamorfoses

por Bruno Carmelo

A jovem Colleen (Addison Timlin) já foi uma adolescente gótica, de cabelos cor-de-rosa e unhas pretas. Depois de um trauma, adotou um visual comportado, abandonou a família e se tornou freira. O irmão dela, Jacob (Keith Poulson), costumava ser o garanhão do colégio, mas em virtude de um acidente na guerra do Iraque, volta aos Estados Unidos com o rosto deformado. A mãe deles, Joani (Ally Sheedy), era histérica e desestruturada, mas após uma tentativa de suicídio, toma remédios e busca adotar um modo de vida estável.

Esta comédia independente trata de grandes transformações na vida de seus personagens. O diretor Zach Clark prefere que elas sejam físicas, e as mais contrastantes possíveis, indo do sagrado ao profano, da bela à fera. Irmã lembra um baile à fantasia, com tipos muito precisos se esforçando para se tornarem outros tipos igualmente circunscritos – vide o jovem deformado que se passa por um monstro, a namorada do soldado (Kristin Slaysman) que assume o fetiche de sedutora na Internet, a mãe se vestindo de noiva de Frankenstein. Estamos no terreno de caricaturas que se combinam e se reconfiguram, sem deixarem de ser caricaturas.

Seguindo a fórmula agridoce das comédias indies, os protagonistas são pessoas fracassadas, tristes, que se unem por reconhecerem uns nos outros o mesmo traço de exclusão. “Somos todos ferrados, é por isso que a gente se ama”, resume Emily (Molly Plunk). O roteiro de Clark prefere os pequenos gestos, os instantes de silêncio e desconforto, sem investir na psicologia dos personagens ou nas reviravoltas marcantes. A narrativa aponta para uma série de instantes possivelmente catalisadores de conflitos, como o jogo de “verdade ou desafio”, a festa de Halloween ou a primeira vez que o jovem deformado sai nas ruas. Mas essas cenas se concluem de maneira frustrante, sendo interrompidas ou abandonadas pela montagem.

É louvável que Irmã respeite as estranhezas dos membros da família, adotando um humanismo solidário ao grupo disfuncional. No entanto, paira uma sensação de monotonia, como se as diversas metamorfoses no visual não implicassem nenhuma mudança essencial nos personagens: Colleen continua tímida e passiva, mesmo quando se veste de gótica novamente, Jacob permanece indiferente à ajuda alheia, mesmo após enfrentar o olhar alheio. A história segue uma linearidade inabalável, como se acompanhasse a trajetória da protagonista sem um objetivo preciso.

Apesar do desenvolvimento frágil, o cineasta possui bom senso de estilo, desde o uso inteligente do formato widescreen até a alternância entre câmeras na mão nas cenas mais banais e câmeras fixas nos instantes mais agitados, garantindo o equilíbrio de tons. A fotografia é competente, e a trilha sonora, coincidindo o uso da percussão com as passagens de tempo, merece destaque. As atuações podem ser monocórdias – Clark impede que os atores desenvolvam seus personagens, sendo obrigados a se ater aos mesmos tiques – mas o resultado final é coeso. Este pode não ser um filme particularmente memorável, mas ele confia em suas escolhas narrativas e estéticas, explorando-as do início ao fim.