Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Batman - A Piada Mortal

Os segredos do Coringa

por Bruno Carmelo

É curioso que uma animação como Batman - A Piada Mortal chegue aos cinemas. Trata-se de uma obra concebida para o formato home video, com duração muito mais enxuta que a maioria das histórias de super-herói (73 minutos), a partir de uma história em quadrinhos famosa, mas bastante curta. Os roteiristas acrescentaram trechos inéditos para atingirem a mínima duração necessária para o projeto ser considerado um longa-metragem.

A consequência desta escolha é uma primeira metade um tanto arrastada. Esta parte se concentra nos conflitos amorosos e profissionais da Batgirl, apaixonada pelo Batman, mas inconformada com sua posição de coadjuvante em relação ao arrogante Homem-Morcego. De qualquer forma, ela se contenta em seguir ordens do parceiro, e quando ambos sucumbem ao romance – por iniciativa dela – a personagem é logo punida com o distanciamento de Batman. Apesar de possuir um componente de ação, o trecho inicial é amplamente dedicado à desilusão amorosa de Batgirl, através de cenas que não existiam nos quadrinhos, e se conectam de maneira pouco orgânica com o restante da trama.

A Piada Mortal melhora muito quando o Coringa entra na história. Com uma série de flashbacks eficazes, a narrativa mostra como ele se tornou o icônico vilão. O roteiro evita julgar os atos deste personagem fascinante: apesar de toda a perversidade, Coringa ainda é a vítima de uma vida dura, transferindo aos outros o mau tratamento que recebeu. A humanização do vilão, por si só, já vale o projeto, mas o filme se destaca igualmente pelo conteúdo violento, com duas sugestões de atos cruéis raramente vistos numa adaptação dos quadrinhos. Felizmente, nada foi feito para suavizar o sadismo do material de origem.

A imersão nos complexos traumas do Coringa também rende a parte visual mais interessante do conjunto: a cena do parque de atrações e as próprias imagens noturnas do lugar são devidamente sombrias e criativas, destoando da técnica de animação pouco desenvolvida do terço inicial. O Coringa parece comandar não apenas os conflitos centrais, mas também a estética de A Piada Mortal. Sua loucura se transforma em sinal de vitalidade e complexidade após o embate convencional entre Batgirl e Batman.

Como adaptação, o filme deve agradar aos fãs por manter as ambiguidades tão apreciadas na HQ original, principalmente no que diz respeito à controversa cena de encerramento. No entanto, o resultado não oculta sua vocação para o lançamento em home video: os visuais são menos desenvolvidos do que a média das animações cinematográficas, enquanto isso, a narrativa soa curta demais para os longas do gênero, e longa demais para a adaptação de uma história tão curta. Apesar das concessões, o resultado é positivo.