Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Encolhi a Professora

A escola é um parque de diversões

por Bruno Carmelo

A primeira reação do pré-adolescente Felix (Oskar Keymer) diante da escola é de medo. Ele acaba de chegar a um novo estabelecimento, e teme não ser aceito pelos colegas, nem se integrar à nova cidade. O zelador do local sugere perigo, as crianças ameaçam perturbá-lo, a rígida professora de matemática demonstra prazer em humilhá-lo pelos fracos conhecimentos na disciplina. Visto de fora, o imponente edifício lembra uma mansão mal-assombrada, com direito a ornamentos góticos para impor autoridade.

Aos poucos, Encolhi a Professora transforma o receio natural de chegar a um novo ambiente numa aventura sobrenatural. Partindo do imaginário do casarão repleto de fantasmas, o filme passa a enxergar a escola como palco de segredos e investigações policiais, até convertê-la literalmente num terreno de jogos. O diretor Sven Unterwaldt deseja desconstruir o imaginário da escola como local de regras incompreensíveis às crianças para ressignificá-la de modo lúdico e otimista.

A principal magia permitindo essa mudança de ponto de vista diz respeito ao encolhimento do título. Num passe de mágica, a professora Schmitt-Gössenwein (Anja Kling) diminui e se torna dependente de Felix para alimentá-la, protegê-la, levá-la a todos os lugares. Os papéis se invertem: Felix torna-se o adulto, representando a figura de autoridade diante da filha simbólica. O roteiro se diverte, tratando a professora como boneca e trocando suas roupas, confrontando-a a objetos muito maiores. Mais importante que isso, a inversão serve para atenuar o trauma escolar do protagonista: agora, a professora não desperta medo. Sem os códigos opressores de conduta, ele pode aprender livremente.

Por trás da brincadeira pueril do título, esta comédia faz com que os adultos tornem-se frágeis, sendo apontados como principais responsáveis pelas dificuldades de adaptação das crianças. Ou seja, a mensagem não aponta ao típico ganho de confiança em si - a questão é de ordem social e geracional. A cena em que Felix e a amiga Ella (Lina Hüesker) ensinam Schmitt-Gössenwein a usar uma caneta gigante é exemplar: de repente, as crianças demonstram uma paciência e um senso de pedagogia que a adulta jamais possuiu. O roteiro aposta em configurações atuais e progressistas de sociedade: na família de Felix, a mãe é a principal provedora enquanto o pai cuida dos afazeres domésticos; a garota Ella é tão importante e capaz quanto Felix, sem que a história precise sugerir um romance entre ambos. Aos poucos, as caricaturas são desfeitas e os personagens se humanizam. O desenvolvimento é mais sutil do que a maioria das produções equivalentes norte-americanas.

Apesar das qualidades de roteiro e também de atuação - Oskar Keymer é um jovem ator particularmente natural e expressivo - a direção prejudica a fruição do resultado. Unterwaldt abusa da linguagem acadêmica, da trilha sonora explicativa (como se as crianças precisassem de melodias sugestivas para compreender quando rir ou ter medo) e da paleta de cores saturada para representar fantasia e diversão. A direção, com seus recursos gastos, poderia beneficiar da criatividade atribuída aos protagonistas. Outro problema ocorre no terço final da história: após alterar o foco da diminuição da professora à possibilidade de fechamento da escola, o roteiro faz uma nova guinada para revelar um mundo secreto dentro do edifício. A narrativa esquece seu ponto de partida, perdendo-se entre os caminhos abertos.

Mesmo assim, Encolhi a Professora se distingue da média das aventuras juvenis pela naturalidade dos conflitos e pela empatia com as crianças, ao mesmo tempo em que critica a ganância dos adultos e o enrijecimento das instituições. O filme termina por efetuar um libelo sobre a importância do aprendizado, tanto no sentido estrito do termo - as escolas, vistas como universos fantásticos repletos de possibilidades -, quanto no sentido mais amplo - caso dos adultos, que ainda têm muito a apreender com o espírito aventureiro de seus filhos. Uma articulação de ideias ambiciosa para uma produção infantil.